sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Série Couro Noturno - episódio 4 - Isaac

Isaac


Apoiei os cotovelos sobre a mesa por um momento, pressionando as têmporas. Céus, há tempos minha cabeça não doía tanto.

Tomei mais um gole do café, que já esfriara, depois de totalmente esquecido. Fiz um careta e desisti da caneca, colocando-a fora do meu alcance.

Olhei à volta, para distrair os pensamentos por um instante, antes de voltar a me concentrar no trabalho. Deleitei-me novamente com o alívio da redecoração recente de meu escritório.

Havia persianas fechadas em todas as vidraças e janelas. Já não podia ver os funcionários que orbitavam minha sala, a menos que precisassem entrar. E todos foram avisados de que meu humor não andava em sua melhor fase, então seria melhor que fossem bastante seletivos ao me incomodar.

Especialmente Miguel.

Não que ele tenha recebido instruções diferentes dos outros, mas era para não ver aquele par de olhos azuis assomar à minha porta que eu torcia a cada minuto.

Aproveitei para cobrir de persianas o mundo externo também. Nada de paisagem através das amplas janelas. Estou fechada em minha caixa, concentrada apenas no meu trabalho. Melhor assim.

Consultei o relógio, dando-me conta de que o expediente já se encerrara há mais de três horas. Não me importei com o horário, fora apenas curiosidade. Isaac estava acostumado às minha chegadas tardíssimas em casa, sempre com a desculpa de que estava trabalhando. Foi assim que sempre dei minhas escapadas noturnas, regadas a sexo e dominação. Eu tenho a necessidade de dominar, subjugar. Me alivia e me excita ao mesmo tempo. Para isso possuo servos, já que Isaac... Bem, a verdade é que Isaac NUNCA se submeteria aos meus caprichos.

Isaac é um homem corpulento e dominante. Tem personalidade marcante e gênio explosivo, entretanto estende a mão para ajudar e abraça para consolar alguém com a mesma determinação e intensidade. É o tipo de homem que se ama ou se odeia; não existe meio termo para ele.

Eu mesma o amo em algumas horas e o odeio em outras. Não há como ficar indiferente à sua presença.

A manhã com Isaac havia sido difícil. Perguntou-me quem era Miguel, depois do maldito sonho erótico que tive, tão real a ponto de eu chamar o nome do pivete enquanto dormia. Eu sabia que a pergunta aberta era apenas o primeiro passo de Isaac, e que ele iria investigar a fundo. Então de nada adiantava mentir.

Disse, com a maior naturalidade que me foi possível, que Miguel era um funcionário novo da firma e que estava me dando algum trabalho por não conhecer o serviço e não estar entrosado com o grupo. Ok, tudo isso eu inventei. Mas o que mais eu poderia dizer para justificar que um dos meus funcionários permeasse meus pensamentos por mais de um décimo de segundo?

Isaac mostrou-se abertamente desconfiado. Não havia nada de concreto para que ele suspeitasse de Miguel; certamente sua desconfiança era um reflexo de todas as minhas saídas noturnas anteriores. Saídas essas em que eu dizia que estava no escritório até tarde.

No escritório onde Miguel também trabalha agora.

De fato, a grande maioria dos meus atrasos noturnos era anterior à contratação de Miguel, e uma breve pesquisa poria Isaac a par disso. Mas, a esta altura, como saber se eu não conhecia Miguel anteriormente, e por isso lhe conseguira um emprego na minha equipe? Uma mente desconfiada pode ser extremamente criativa. E um homem fustigado pelo ciúme tece tramas em sua mente dignas de Hollywood.

Dei-me conta de que estava imersa em tais pensamentos quando a luz acabou. Houve um repentino blackout, que fez o computador apagar-se na minha frente sem aviso, assim como todas as luzes. Fiquei na escuridão total.

Mantive-me calma nos primeiros três segundos, pensando que o gerador poderia ter um minúsculo atraso para cobrir a falta de energia. Entretanto, após quinze segundos, compreendi que o gerador não iria funcionar.

Deixe- me ver se entendi. Eu pago uma fortuna para manter uma empresa de nível internacional em um dos prédios comerciais mais modernizados do país. O mínimo que eu espero é uma infra-estrutura condizente com a quantia extorsiva que me cobram mensalmente.

E o sistema de gerador deu pane junto com o apagão da companhia elétrica. O que mais pode dar errado?

O telefone fixo em minha mesa tocou. Atendi ao quinto toque, depois de tatear para encontrá-lo tentando não derrubar os objetos mais frágeis que habitavam minha mesa.

- Madalena, por que não está em casa? - soou contrariada a voz de Isaac.

- Por que estou trabalhando, como pode ver.

- Presumi que havia ficado subentendido que precisávamos terminar aquela conversa agora à noite. Pensei que voltaria cedo.

- Pois eu presumi que você precisava de espaço, depois da maneira como ficou enfurecido pela manhã. Em nenhum momento eu disse que voltaria cedo para conversarmos. Até porque já dissemos coisas demais hoje cedo.

Nesse exato momento a porta do meu escritório se abriu num rompante.

- Tudo bem aí, Dona Madalena?

Miguel. Era só o que me faltava.

- Quem chamou seu nome, Madalena? Quem mais está aí até essa hora? - inquiriu Isaac, com a voz cheia de acusação.

- Um funcionário acabou de entrar para ver se estou bem, Isaac, por que a força elétrica acabou um minuto antes de você ligar. Estou no escuro.

- O prédio tem gerador. E que funcionário? - fuzilou Isaac.

- Deve ser o faxineiro, Isaac. Como vou saber nessa escuridão? - disfarcei, mas minha voz começava a dar sinais de estresse; havia sido uma péssima hora para Miguel entrar.

- Pois peça que ele se identifique. Quero ouvir seu funcionário dizer o próprio nome. - ordenou ele - Pergunte, Madalena.

Oh, Deus. Se eu me recusasse seria pior.

- O funcionário que acabou de entrar... - respirei fundo, que Deus me ajude - Pode dizer seu nome, por favor?

- É o Seixas, Dona Madalena. Me desculpe incomodar. - respondeu Miguel, usando o nome do faxineiro do nosso andar.

- Conseguiu ouvir, Isaac? - indaguei, tentando disfarçar na voz, meu alívio.

- Ouvi. - respondeu secamente - Madalena, quero que venha para casa. Agora.

- Isaac, estou sem luz no vigésimo sexto andar. Como espera que eu faça isso?! - retorqui, começando a ficar irritada.

- Apenas venha para casa. Estou lhe esperando. - e desligou o telefone.

- Merda! - praguejei, antes que pudesse me conter ou mesmo questionar se Miguel continuava ainda na sala ou não.

Fiquei em silêncio, imersa na escuridão. Comecei a tatear meus pertences, e o som dos objetos sendo tocados sobre a minha mesa se espalhou pela sala.

Vi algo brilhar na escuridão. Miguel ainda estava ali, e acendeu o celular iluminando minha mesa. Deduzi que queria se certificar de que eu desligada o telefone.

Aproximou-se, com o celular ainda aceso.

- Tudo bem, Dona Madalena?

- Tudo. - respondi.

- Precisa de ajuda? Ou companhia? - ele insistiu.

- Não, tudo bem.

- Se precisar de algo, pode chamar, está bem? - ofereceu, com a voz suave e sincera; não demonstrava nada mais que preocupação genuína. Deixou que o celular se apagasse.

- Obrigada, Miguel. - e, após um momento breve de indecisão, acrescentei - E... obrigada por se identificar como sendo o Seixas. Foi... não há como te explicar mas... - expirei pesadamente, para aliviar a pressão - apenas obrigada.

- Não por isso... depois do que a senhora disse, algo sobre ser o faxineiro, imaginei que era isso que esperava ouvir.

Garoto esperto.

- Sinto muito por ter permanecido aqui durante seu telefonema... - ele continuou, na escuridão -  queria me certificar de que não precisava de algo.

- Obrigada, Miguel. - bufei, ainda tentando me livrar da tensão, e tentando me livrar dele; estava começando a ficar perturbada com sua presença tão solicita e tão próxima. Acrescentei, esperando que o sarcasmo o repelisse - Tudo que eu preciso é de uma hora num SPA, com um massagista cinco estrelas.

Ele se calou por um momento e cheguei a cogitar se havia deixado a sala. Mas a voz de Miguel soou novamente.

- Não posso garantir as cinco estrelas, mas... sei o suficiente sobre massagem para receber elogios sempre que tento. - garantiu, enquanto ouvia sua voz se aproximando de mim, sentia as mãos tatearem minha cadeira.

- Miguel, eu não quis dizer...

- É aqui que está a tensão? - indagou, já com as duas mãos nos meus ombros.

Meu Jesus. Ele apertou meus músculos doloridos, com firmeza e técnica. Eu devia dizer-lhe para parar imediatamente, mas não tive forças. Podia sentir a tensão se esvair do meu corpo, a medida que ele manipulava os músculos rígidos acima das minhas omoplatas e ao longo do meu pescoço. Simplesmente deixei a cabeça pender para frente e permiti que ele continuasse.

O pivete era realmente bom. Aqueles dedos esguios que eu observara tantas vezes tinham um toque firme e sensual. À medida que a massagem prosseguia, seu movimentos ficaram um pouco mais lentos e ritmados. E ele apertava minha nuca com mais ênfase, quando deslisava os polegares na subida do meu pescoço, prosseguindo até a raiz do meu cabelo. Era como se apreciasse o leve roçar do meu cabelo em suas mãos. Comecei a imaginar se o pivete estava tentando me seduzir. Ou se ele mesmo estava seduzido com a situação. Ou se ambas as coisas estava acontecendo ao mesmo tempo.

O fato é que aquele toque sedutor era tudo o que preenchia minha mente naquele momento. Imersa na escuridão total, eu era pura sensibilidade. Era como se meu sentidos tivessem se apagado todos, cedendo lugar apenas ao tato, que absorvia com voracidade a sensação da pressão ritmada dos dedos dele sobre a minha pele. Sentia-me como se tivessem me vendado propositalmente, para ampliar outros sentidos. Como já vendei meus servos na cama. Da mesma maneira que vendei Miguel em meu sonho.

O sonho... as imagens voltaram à minha mente. Meu pivete amarrado à cama, os músculos firmes daquele corpo seminu, exposto apenas para o meu deleite. Aquele pivete que me fazia arder de desejo tinha suas duas mãos sobre mim naquele momento, e me massageava com firmeza e empenho, e seu toque tinha algo de paixão. Gemi baixinho, involuntariamente. Quando me dei conta do que eu havia feito, prendi a respiração. Ele me apertou com mais força, assim que o gemido deixou meus lábios. Ouvi quando ele expirou com força, como que para aliviar a própria tensão.

Deus, eu estava perdendo o controle.

Já não bastasse suas mãos me enlouquecendo, em seguida senti que ele se inclinava, e perguntou, próximo ao meu ouvido:

- Está gostando... Dona Madalena?

A voz dele estava entrecortada, impregnada de um desejo que ele tentava disfarçar. Senti o hálito quente dele próximo ao meu rosto ao mesmo tempo em que senti o perfume sutil que usava, algo que lembrava a brisa marinha numa manhã de inverno.

- Lembre-me de lhe dar uma condecoração por isso... - tentei ironizar, para disfarçar o desejo que me queimava por dentro.

Ouvi um breve som, como um risada discreta e satisfeita, e as mãos dele continuaram seu trabalho.

Era o riso velado de um homem que também queima de desejo por dentro. A esta altura eu tinha certeza que ele também estava excitado com aquela situação.

E nós dois estávamos sozinhos no escritório às escuras.

Que vontade incontrolável de dar o bote sobre aquele pivete delicioso.

Em algum ponto da minha mente, que eu queria mandar que se calasse, havia a lembrança de que ele era meu funcionário, de que estávamos no meu escritório, e de que eu estava ficando louca de vez.

Lutando contra isso havia meu corpo queimando, a ponto de eu me aproveitar da escuridão completa para me provocar ainda mais.

Certa de que não se podia ver nada naquele breu, e de que o pivete não enxergaria, usei as duas mãos para subir discretamente a saia que usava, até o alto das coxas. Então acariciei de leve o meio de minhas pernas, mal conseguindo respirar quando senti o toque de meus dedos sobre a vulva inchada de desejo. Minha calcinha estava completamente molhada.

A união dos dois toques, as mãos masculinas do pivete na minha nuca e ombros, e meus próprios dedos sobre a calcinha de renda, estavam prestes a me convencer de que a única coisa certa a se fazer era sentar aquele guri na minha cadeira e cavalgá-lo até eu me satisfazer por completo.

Já não estava preocupada com nada mais que não fosse a necessidade urgente de senti-lo duro dentro de mim.

Oh, Deus... que se dane todo resto!

Respirei fundo, e ia pronunciar o nome do pivete quando o maldito telefone tocou novamente, tão alto sobre a minha mesa que me fez pular de susto.

Segurei o fone num rompante, ainda sobre o gancho, enquanto Miguel, também sobressaltado, retirava as mãos dos meus ombros. Minha vontade era arremessar o aparelho longe. Mas algo me dizia que era melhor atender.

O telefone deu o terceiro toque, e eu o levei ao ouvido.

- Sim?! - vociferei para o aparelho.

- Dona Madalena, é da portaria. O senhor Isaac acabou de tomar as escadas. Disse que está subindo para buscá-la.

Pu-ta-mer-da!!! Mas agora?!


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Nota da autora: Os episódios anteriores dessa série podem ser lidos aqui:
Série Couro Noturno - episódio 1- O Diário
Série Couro Noturno - episódio 2 - Miguel

6 comentários:

  1. Puta Merda²
    Rsssssss Muito bom, Dona Marcinha! Ficou instigando Miguel... E agora, Madalena?
    Muito, mas muito ansiosa mesmo por saber o desenrolar da história! Onde ela vai enfiar o Miguel? rssssss

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    1. Obrigada, Sammantha!
      Pois é, ambos atiçados e uma maridão subindo as escadas... que situação!
      Aguarde... ;)

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  2. Caracoles! O bicho vai pegar agora!!! O negócio é torcer pra luz não voltar, porque aí o Issac não vai conseguir enxergar o Miguel!
    Agora.. que porteiro esperto! Ligando pra alertar! Imagina se o cara entra com uma lanterna e pega a mulher toda se querendo pro pivete? Rolava até assassinato!

    Por favor, me fala que semana que vem tem continuação dessa historia!

    Beijos.

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    1. Obrigada, Nanda!
      Já pensou? É certo que Isaac não pode ser descrito como uma cara exatamente calmo...
      Sim! Continuação no forno para esta semana! ;)

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    2. No forno literalmente com esse calor que tem feito no RJ... rsrs :-p

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