sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pegando um Cineminha

Levei um bom tempo para aceitar um convite para sair com ele. Eu havia passado por uma decepção amorosa enorme, que me afastou de todo e qualquer homem por mais de um ano e meio. Me isolei mesmo, só queria curtir minha dor de cotovelo em paz.

Não que sair com ele fosse exatamente um "encontro". Wagner era meu amigo, apenas isso. Um amigo agradável, divertido, sempre espirituoso. E tímido! Acho que essa era a qualidade que mais me encantava, o jeito como ele ficava sem graça quando eu fazia alguma zoação. E, acima de tudo, havia um contraste entre a timidez dele e uma certa agudeza que ele sempre trazia no olhar. Não sei explicar... um olhar que passa sempre a sensação de que a mente está muito ativa por trás daqueles olhos escuros.

Apesar de sermos bons amigos, eu relutei tanto em aceitar o convite porque... nossa, ele é atraente. Tem o corpo malhado, cabelo comprido, um cavanhaque discreto. E, por Deus, eu não sou de ferro. Não sabia o que podia rolar estando eu e ele numa sala escura, ainda mais porque eu estava há uma era geológica sem namorado.

Sim, por que ele me chamou pra ir exatamente ao cinema.

Pegamos a primeira sessão da noite, e eu não tinha ideia de que filme iríamos ver até que chegamos ao cinema, já que a escolha ficou por conta dele. Fiquei me perguntando se ele possuía um gosto bastante exótico para filmes, ou se a escolha tinha sido intencional. O filme era... sem palavras. Acho que ruim era pouco. Mas, como o importante em um passeio é a companhia, deixei rolar.

Já no interior do cinema, comprovei minha teoria sobre o filme ser mesmo horrível. Havia meia dúzia de pessoas no cinema inteiro. Além disso, comecei a desconfiar que meu amigo estava um tanto mal intencionado quando me conduziu para sentarmos na última fileira do cinema, do lado esquerdo. Era um recanto tipo "fim de linha". Dava para ficarmos completamente à vontade ali.

Começamos a conversar, enquanto passavam na tela os milhões de trailers antes do filme. Em pouco tempo ele estava falando no meu ouvido, com aquele braço imenso me abraçando pelo ombro. Eu tinha certeza que devia relutar um pouco, mas... cadê forças para isso? Quando em dado momento ele roçou "sem querer" o cavanhaque na minha orelha, eu fechei os olhos, sentindo-me derreter por dentro.

Ele percebeu na hora como eu amoleci, e puxou-me mais para perto. Afagou meu cabelo com a mão direita, afastando uma mecha do meu rosto. Despreguei os olhos da tela, onde eu tentara bravamente focar minha atenção, sem sucesso. Encarei aquele olhar intenso que me observava e no momento seguinte eu me perdia num longo beijo.

Minha vontade era me afogar naquela boca pra sempre. À medida que ele aprofundava o beijo, me puxava mais para si naquele abraço firme e quente. Continuava a me afagar o cabelo, e eu retribuí a carícia, brincando com o longo cabelo dele, segurando aquele pescoço sólido. A essa altura eu o incentivava mais e mais, saboreando aquela boca com a minha língua faminta, enquanto a mão dele deslisava para a minha coxa. Dei graças internamente por ter saído de casa de vestido. Em pouco tempo aquela mão firme deslisava pelo meio das minhas coxas, roçando de leve minha calcinha. Ele constatou com um gemido de prazer o quanto eu já estava molhada, apertando-me a carne, afastando-se da minha boca para beijar-me o pescoço. Minhas mãos deslisaram pela camisa dele, abrindo os botões, acariciando-lhe o peito. Abaixei a cabeça um pouco, oferecendo-lhe a nuca para ser beijada, enquanto eu beijava o peito firme dele sem parar. Com um movimento ágil ele desabotoou a calça jeans e abriu parcialmente o zíper. Meu olhar, nublado de desejo, foi imediatamente atraído para o delicioso volume sob a calça dele. Mil idéias já passavam pela minha cabeça, quando um pequeno imprevisto aconteceu.

Assim que o filme começou, duas meninas, que pela atitude formavam um casal, sentaram-se a poucas cadeiras de nós. Se abraçaram, cochicharam, e olharam disfarçadamente para nós por duas vezes. Eu e ele desaceleramos aquela pegação toda, por causa da indesejada platéia. Eu rezava internamente pra elas irem embora, enquanto ele se limitou a bufar, visivelmente contrariado.

Como elas não pareciam ter a menor intenção de se mover, Wagner retomou nosso amasso, ignorando-as completamente. Eu recomecei a cariciá-lo, louca de desejo, porém muito menos à vontade que antes. A presença das duas tão perto de nós me incomodava. Tive a impressão de que elas sentaram ali só pra nos atrapalhar. Em dado momento falei, sem muito tempo para a amadurecer a ideia:

- Wagner, pára... melhor paramos. - falei baixo, mas de modo que elas duas pudessem ouvir.
- Por que? - ele indagou, sem se afastar do meu pescoço.
- Por causa daquele rato... você não o matou, ele só fugiu. A gente se pegando desse jeito nem vai ver se ele voltar... não quero aquele bicho subindo no meu pé outra vez...

As duas garotas se entreolharam, sem se dar conta de que eu as observava. Cochicharam novamente e se levantaram no momento seguinte, andando lenta e disfarçadamente, como se nada tivessem ouvido. Wagner percebeu a movimentação das duas, sem mesmo precisar olhar, e entendeu meu comentário. "Sapeca..." ele sussurrou no meu ouvido, enquanto sua mão voltava pra minha coxa.

Daí em diante estávamos a sós naquele espaço, todos os outros olhares estavam longe. Nos perdemos novamente em um beijo urgente, minha mão deslizando pelo peito dele, pelo abdomem firme, indo cada vez mais para baixo. Um lampejo de sobriedade passou pela minha cabeça de repente, e perguntei se não podíamos ir para um lugar mais sossegado, sair do cinema. Ele sussurrou "não... aqui mesmo" enquanto me apertava a carne, deixando o meio das minhas pernas cada vez mais molhado. Por Deus... que se dane onde estávamos. Deslizei uma das mãos para dentro da calça dele, segurando-o com firmeza por cima da cueca. Ele gemeu baixo no meu ouvido e afastou minha calcinha com um movimento ágil, me introduzindo o polegar, que deslizou pra dentro da minha carne até onde pode alcançar.

Gemi baixinho, agarrando-me a ele, meus dedos crispados nas suas costas. Mal podia respirar. Ele retirou o dedo molhado lentamente, e introduziu-o outra vez, fazendo-me prender a respiração. Afogou sua boca na minha, faminto, enquanto mantinha o vai-e-vem em estocadas firmes e deliciosas. Minha língua passeava pela sua boca, enquanto minha cabeça girava e aquele doce tormento acelerava mais e mais. Meu coração parecia querer sair pela boca. Meu orgasmo se aproximava rapidamente, e eu perdi o que restava do meu pudor. Comecei a mexer os quadris, enquanto gemia naquele beijo, acompanhado os movimentos rápidos da mão dele. Afastei-me daquela boca convidativa, enquanto meu corpo se retesava, o orgasmo cada vez mais perto. Ele me torturava, penetrando-me cada vez mais fundo. Na fronteira do abismo, sussurrei "ahh... porra". Ele me enlaçou ainda mais faminto, apertando o peito contra meu corpo, e me impunha seu dedo com mais força enquanto sussurrava de volta no meu ouvido.
- Isso... fala... - ele ordenou, enquanto sua mão me possuía.
- Ahh.. Wagner... porra...
- Isso... xinga, gostosa...
- Ah... mete assim... seu puto... - ele mordeu meu pescoço, assim que o xinguei - ahh.. caraaaalhoooo...
O orgasmo veio numa torrente de prazer, rasgando-me por dentro. Arqueei o corpo, gemendo sem parar, sentindo aquela boca quente passar do meu pescoço aos meus seios, mordendo-me os mamilos rígidos através de vestido, sem parar de me penetrar. Do primeiro orgasmo passei a outro, e a outro... o prazer vinha em ondas cada vez mais fortes, enquanto Wagner me estimulava cada vez mais, incansável e faminto. Por fim, respirei fundo, embriagada de prazer, à medida que meu corpo serenava. Ele retirou o dedo, me acariciando com a mão toda uma última vez, lentamente, sobre minha vulva inchada e sensível. Ele me abraçou, aconchegando-me, dando-me tempo para me recuperar do turbilhão que me envolvera, enquanto acariciava meu cabelo com a mão levemente trêmula. Eu sabia que ele a essa altura, o desejo o queimava por dentro.

Assim que minha respiração normalizou, procurei sua boca novamente. Ele correspondeu meu beijo de forma ansiosa, quase violenta. Eu o provocava, sugando-lhe a língua, enquanto minha mão deslizava para dentro da sua cueca. Depois daquele orgasmo avassalador ao qual eu havia me entregado, eu estava louca por ele, e sentia-me uma completa devassa. Nós estávamos no cinema! Um mar de cadeiras enfileiradas e vazias haviam testemunhado cada espasmo que aquele macho gostoso acabara de me proporcionar. A essa altura, a possibilidade de sermos pegos nem mesmo me passava mais pela cabeça. Tudo que eu desejava era dar prazer àquele homem, naquele exato instante.

Afastei a cueca, expondo aquela tora dura, deslizando minha mão da cabeça até a base firmemente. Ele se afastou do meu beijo, xingando baixinho, respirando pesadamente, quase enlouquecendo. Deixando-me a boca livre, recomecei a beijar-lhe o peito novamente, e entre um beijo e outro, eu chupava e mordia. "Isso, safada..." ele sussurrou, a medida que eu o mordia, e ia descendo lentamente pelo abdomem dele. Estava quase tocando em sua parte mais sensível, que já pulsava na minha mão, quando parei. Num momento de expectativa, que para ele deve ter parecido uma eternidade, eu simplesmente fiquei ali, masturbando-o lentamente, com minha boca tão perto que ele podia sentir o meu hálito quente. Ele me observava com o olhar em chamas, o peito arfando de desejo, enquanto eu sustentava o seu olhar. Quando ele entendeu minha provocação, ordenou com algum esforço, a voz quase inaudível: "engole". E eu o abocanhei lentamente, de uma só vez, até onde consegui aguentar.

Ele gemeu, um gemido longo e grave, enquanto jogava a cabeça para trás, entregando-se ao prazer que sentia. Eu recuava e o engolia, recuava e engolia ainda mais fundo, lenta e continuamente. Ele ajeitou meu cabelo, arrumando um rabo-de-cavalo improvisado que segurou firme com a mão esquerda. Então usou esse ponto de apoio para conduzir-me os movimentos, empurrando e puxando meu cabelo suave e firmemente, ditando o ritmo no qual desejava ser engolido. Eu estava excitadíssima, enquanto ele me "usava" como bem queria. Ele estava adorando, e começou a contrair os quadris, empurrando-se mais para o fundo da minha garganta. Quando comecei a lhe cariciar lentamente o saco, ele gemeu profundamente, e passou a possuir minha boca com urgência, agarrado ao meu cabelo, de um modo quase violento. Com a outra mão eu lhe arranhava o peito, e consegui apartar-me dele por um breve momento, para provocá-lo. "Goza pra mim, seu putinho", eu ordenei, e voltei a engoli-lo até o fim. Ele acelerou as estocadas, praticamente levitando da cadeira, possuindo a minha boca cada vez mais fundo e mais rápido, gemendo sem parar. Então ele se entregou a uma onda violenta de prazer, e senti minha boca se encher daquele leite grosso e quente, enquanto ele gemia mais alto, de um modo quase sofrido. Tão excitada eu estava que gozei outra vez, contorcendo-me na cadeira, a boca totalmente ocupada, sentindo aquele membro duro contra a minha garganta. Quando finalmente serenamos, ele me puxou gentilmente pelo cabelo, e me deu um beijo longo e exausto.

Ficamos recostados nas cadeiras do cinema, logo depois dele ter recomposto suas roupas, abraçados, nossas cabeças encostadas uma na outra, enquanto ainda respirávamos ofegantes. O filme já devia estar bem adiantado... o que não tinha a menor importância, no final das contas. Fiquei meditando sobre como aquele safado que me abraçava devia ter premeditado tudo desde o início. Ri intimamente da situação. Aquela safadeza que ele armara me fazia gostar ainda mais dele agora. Que... tarado!

Quase como se ouvisse meus pensamentos, ele acariciou meu cabelo e me deu mais um beijo quente e profundo. Então, sugeriu, com a cara mais lavada do mundo:
- Vamos pra segunda rodada num motel?
- Por que não, né? - respondi, tão cínica quanto ele, e divertindo-me um bocado com a minha própria cara-de-pau.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Série Zaíra - episódio 2 - Hog, o demônio guardião

Hog, o demônio guardião


- MINHA! Ela é minha, só minha!
Rosno entre dentes, irado. Giro o machado com força, atingindo o tronco de uma árvore jovem, que vai ao chão no mesmo instante. Retalhos os galhos que se espalham pelos lados do tronco decepado, cravando repetidas vezes o machado no chão, com toda a minha fúria. Imagino meu oponente caído aos meus pés, imagino meu machado desmembrando os braços e pernas daquele animal arrogante. Maldito, tocou na minha fêmea!
Sinto mais uma vez o gosto ácido no fundo da garganta, quando a ligação psíquica que há entre eu e Zaíra me revelou que ela estava se entregando a ele. Senti a excitação dela ao acariciar o maldito savante, enquanto ele a possuía. Pude sentir cada espasmo do prazer da minha necromante, enquanto aquele animal a penetrava, da maneira como sempre desejei fazer. Urro de dor e raiva. Eu vou matar o desgraçado!
Na qualidade de servo dela, tive de engolir em seco quando os dois saíram da taverna, semi-ocultos pela penumbra da noite, abraçados como dois pombinhos. Ela me disse que não precisaria de mim até o dia seguinte, e virou-se para ir embora. Vestia a camisa dele, sobre as vestes rasgadas. Ela simplesmente me dispensou! Está confiando sua vida àquele animal inferior, quando eu tenho muito mais poder para protegê-la, quando essa é minha função como seu servo e seu guardião.
Mas ela tem poder sobre a minha vontade, sou um demônio invocado por ela, ao seu bel prazer. Se ela diz "fique", eu fico. Permaneço longe dela, indignado, e furioso! Grrrrrrrrrrrrrrr!
Embrenho-me entre as árvores, no denso bosque ao lado da taverna. Quero paz. Quero ficar só, antes que meu urros furiosos atraiam atenção indesejada. Não suportaria ainda ter de dar explicações a ela por conta do meu descontrole.
Arremesso o machado numa árvore próxima, num gesto inútil de frustração. Meus músculos queimam sob a pele azul, meu olhos estão quase em chamas. E algo mais queima dentro de mim. Meu desejo ardente e selvagem por ela.
Maldição, estou duro desde que a senti excitada lá dentro. Duro a ponto de sentir dor pelo meu cacete confinado na armadura. Livro-me da parte metálica da minha vestimenta, liberando-o. Passo a mão em toda a extensão dele. Meu desejo urge por ela. Se eu não der uma boa gozada hoje, vou acabar enlouquecendo.
Meu desejo é só para ela. Só com ela eu seria capaz de me satisfazer. Minha fêmea, minha senhora, minha dona...
Imagino o rosto dela, forte e inocente ao mesmo tempo. Imagino seu corpo, as formas roliças da minha necromante, os quadris fartos, a silhueta feminina, os seios firmes que se avolumam evidentes por baixo do manto, tentando minha imaginação sempre. Lembro seus cabelos escuros que se derramam sobre os ombros, e o cheiro doce de flores que sempre emana deles. Fecho os olhos. Quase posso sentí-la. Meu corpo inteiro vibra de excitação enquanto acaricio meu cacete duro, sentindo toda a extensão dele. Sinto-o pulsando. Estou louco pra me satisfazer.
Eu a imagino linda como é, minha Zaíra deitada na relva, lânguida ao sol... enquanto eu o agarro com mais força e me masturbo, cada vez mais intensamente. O orgasmo se aproxima rapidamente, mas eu desejo prolongar minha própria tortura. Imagino-a ordenando que eu diminua o ritmo, e logo obedeço. Passo a masturbá-lo mais perto de base, evitando tocar na cabeça inteiramente lubrificada, o que me faria explodir antes da hora. Continuo a acariciá-lo com força, porém lentamente, enquanto imagino minha musa à minha frente, levantando-se, caminhando em direção a mim. Ela sorri, aquele sorriso cheio de segurança e segundas intenções que já vi tantas vezes em seu rosto. Vejo-a erguer as mãos em direção aos seios, acariciá-los por cima do manto, vejo os bicos enrijecerem e formando um lindo volume sob o tecido espesso. Rosno, rouco de desejo, e ela sorri novamente, descendo as mãos ao longo do corpo, acariciando o ventre, os quadris, as coxas. Seu corpo se mexe sinuosamente, os quadris desenham círculos em uma dança lenta, cheia de luxúria. Ela está se exibindo pra mim. Acelero os movimentos, apertando meu cacete entre os dedos, segurando meu saco com a outra mão, sentindo-o balançar no ritmo da minha masturbação. Essa sensação me excita ainda mais.
Continuo imaginando-a, cada vez mais sensual, e ela agora me encara, chupando os próprios dedos enquanto me olha nos olhos, provocando-me além do que posso aguentar. Acelero o ritmo, masturbando-me de forma mais rápida e até violenta, apertando com força a cabeça lubrificada dele a cada ida e vinda. Imagino-me agarrando os cabelos dela com uma das mãos, fazendo-a ajoelhar perante mim, e masturbo meu cacete violentamente, ainda relutando ao orgasmo o máximo possível, para prolongar meu prazer. Por fim, não consigo mais adiar, meu corpo inteiro treme clamando pela satisfação do meu desejo. Eu o aperto ainda mais, explodindo num orgasmo que me rasga por dentro, e urro alto, vendo os jatos de porra que inevitavelmente começam a jorrar até o rosto da minha fêmea. Continuo a apertá-lo naquele doloroso vai e vem, mais para perto da base, forçando-me a jorrar até a última gota de porra que consigo naquela carinha linda.
Finalmente, deixo os braços caírem ao longo do corpo, meus músculos exauridos em sua energia, meu corpo inteiro imerso naquela sensação morna de lânguida satisfação. Respiro fundo, com os olhos ainda fechados, e deixo-me ficar absorto na sensação deliciosa de prazer, de paz, de satisfação...
Quando minha respiração se tranquiliza, vários minutos depois, abro os olhos. Estou só, no bosque noturno. Minha fêmea não está comigo, a não ser em meus pensamentos. Em minha mente e em meu coração, Zaíra está comigo sempre. Embora nesse exato momento esteja na cama de outro...
Não quero pensar nisso.
Visto novamente a parte metálica de minha armadura, arranco meu machado do tronco da árvore na qual o arremessei.
Deixo o bosque, caminhando sem rumo certo, aguardando a hora em que minha dona me evocará novamente, e eu farei apenas o que ela me ordenar. É isso que eu sou, um servo. É só para isso eu existo.

***

Nota da autora: O episódio 1 da série Zaíra pode ser lido no link abaixo:

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Série: Couro Noturno - episódio 1 - O Diário

O Diário


Querido diário...
Precisei começar com sarcasmo. (risos) Estou me sentindo como uma adolescente deslumbrada enquanto escrevo estas palavras. Mal posso acreditar que estou fazendo isso aos 45 anos. Me sinto ridícula.
Mas... minha terapeuta acha que essa é uma boa maneira de trabalhar meus demônios pessoais. Então, cá estou eu.
Não vou considerar um diário, por que não me obrigarei a escrever todo o santo dia. Escreverei apenas quando precisar... como preciso hoje.
Não consigo parar de pensar nele. Maldita hora em que me deixei convencer de que a empresa precisava de mais um funcionário.
Miguel foi contratado ha uma semana, como auxiliar de escritório. Resumidamente, o faz tudo. Aquilo que ninguém tem tempo de fazer, passa para as mãos dele, principalmente a burocracia.
Da vidraça do meu escritório eu o vejo, assim como aos outros funcionários que tem suas mesas ao redor da minha sala. Essa panorâmica nunca me incomodou, até a chegada dele. Agora penso seriamente em redecorar meu escritório... com várias persianas.
Compenetrado em seu trabalho ele nem parece ter 22 anos. A barba premeditada que o ajudou a parecer mais responsável no dia da entrevista de emprego também faz seu papel com maestria. Ele parece um homem maduro, embora exiba um olhar ingênuo as vezes.
E, Jesus... como é bonito. Tem o perfil de uma escultura grega, com um nariz reto e forte que me lembra muito o Davi de Michelangelo. E ainda possui nome de um arcanjo. Miguel.
Ha dias o tenho observado, de maneira tão intensa que meu trabalho tem se atrasado, acumulando-se em minha mesa. Adoro vê-lo sorrir enquanto conversa com os outros, ou a maneira lenta com que coça a barba de leve enquanto está absorto no que lê. Tem sido um colírio para mim apenas observá-lo. E, nas raras vezes em que arriscou um olhar para minha mesa, meus joelhos ficaram bambos.
O que tem esse pivete? Por que não consigo deixar de olhá-lo?
Tenho escapado a noite com uma freqüência bem maior que o costume. Isso tem de parar, porque em breve não terei mais desculpas convincentes para dar a Isaac. Meu marido pode ser distraído e bastante benevolente comigo, mas está bem longe de ser estúpido.
Meus escravos noturnos têm sofrido como nunca. É neles que descarrego minha frustração. O couro do meu chicote está mais macio do que costumava ser... e minha brincadeira menos divertida.
Quando estou na cama com um servo... eu penso nele. Que diabos! Isso me frustra, e volto para casa sem me satisfazer completamente. Variei meus servos nas últimas noites, mas nenhum deles me satisfez.
Eu.. só.. penso.. naquele... maldito... garoto!
Ontem de madrugada tomei um banho demorado mesmo depois de ter transado a noite inteira. Não estava satisfeita, então precisei de um banho bem demorado. Acho que na última vez que me masturbei daquela maneira eu ainda nem tinha idade pra dirigir.
O fato é que precisava aliviar a minha imensa frustração. Me deitei na banheira e, fechando os olhos, eu só via o rosto do meu Davi. Comecei a acariciar os seios lentamente, sentir os mamilos enrijecidos sob a água morna... eu me alisava com firmeza, imaginando o quanto aquelas mãos esguias devem ser firmes no trato com uma mulher. Imaginei-o deitado sob mim na banheira, meu corpo inteiro sobre o dele, minha bunda sentindo sua rigidez aumentar enquanto deitados na água quente. Imaginei sua barba roçando em meu pescoço, a respiração dele no meu ouvido entrecortada pela excitação. Senti suas mãos deslizarem pelo meu corpo, enquanto eu acariciava a mim mesma, imaginando aqueles longos dedos que vejo digitando o dia todo. A barba roçando no meu ouvido. As mãos nas minhas coxas, arranhando-as por dentro, marcando-me a pele debaixo dágua. E eu, excitadíssima, agarrando-me as coxas dele com os dedos crispados, enquanto ele entrelaçava suas pernas nas minhas, imobilizando meus tornozelos.
Senti seus dedos entre as minhas pernas, explorando minha carne, deixando-me ainda mais quente e desejosa. Acariciava minha vulva com dedos habilidosos, pressionando meu grelinho com uma delicada firmeza. Sem que eu esperasse, mordeu-me o lóbulo da orelha enquanto me introduzia três dedos de uma só vez. Arqueei o corpo num êxtase quase instantâneo. Ele retirou a mão, e voltou a me acariciar as pernas.
Minha respiração estava pesada a esta altura e eu havia apenas provado o prazer com ele. Eu queria mais, muito mais.
Segurei o pulso dele decidida e conduzi sua mão de volta ao lugar onde estivera. Ele riu baixinho, uma risada rouca e sexy no meu ouvido. "Putinha", ele sussurrou para mim e me enfiou os dedos novamente. Eu gemi de prazer e ele decidiu que podia me torturar um pouco mais.
Com três dedos introduzidos ainda em mim, ele posicionou o polegar sobre o meu grelo com uma firmeza deliciosa. Então começou a mexer bem devagar, num movimento sinuoso de vai e vem... e, a medida que seus dedos entravam e saíam de mim languidamente, seu polegar roçava o meu grelo, massageando-o. Nossa... como aquilo me enlouquecia. Minha respiração acelerava e eu arqueava o corpo sentindo o êxtase bem perto. Ele roçava a barba em mim novamente enquanto arranhava meu pescoço com os dentes, mordendo-me de leve. Acelerou o ritmo das estocadas, excitando-me com os dedos cada vez mais rápido, enquanto eu gemia continuamente. Quando meu corpo se contraiu pela primeira vez, ele ordenou: "goza pra mim, putinha". Então me liberei num orgasmo longo e delicioso. Ele me atiçava com o movimento contínuo de vai e vem, massageando-me com todos aqueles dedos, e ordenando que eu gozasse mais. Eu me entreguei a um orgasmo após o outro, numa espiral de prazer que começava a me deixar tonta...
Sentindo a cabeça girar, dei um gemido a mais e relaxei meu corpo, exausta. Parecia não haver mundo além de mim, além daquele prazer profundo e extenuante. Mas aos poucos fui voltando à realidade.
Senti a borda da banheira sob meu pescoço, meus membros estirados relaxadamente imersos na água morna. Minhas mãos procuraram ao redor do meu corpo, sem sucesso. Eu estava só, em minha banheira.
Faz muito tempo que minha imaginação não voava tão intensamente. Mesmo eu estando sozinha, acariciando a mim mesma, foi maravilhoso. E satisfatório.
Quase chamei o nome dele enquanto gozava. Miguel... Estreitei os olhos, em reprovação ao meu pensamento. Maldito pivete.
Madalena, Madalena... vou precisar repetir a mim mesma minhas obrigações? Eu tenho um negócio para tocar, aquela empresa precisa de minha autoridade e da minha austeridade. Para aliviar essa pressão, possuo meus servos sexuais, que jamais... JAMAIS, eu disse, farão parte do pessoal do escritório.
Então anote bem, Madalena Maria Oggioni: trepar com o Miguel está fora de cogitação.
Esqueça esse pivete, ouviu bem?
Simplesmente esqueça.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A Bela e a Fera (versão erótica da conto de fadas francês do século XVIII)

Olívia estava deitada em sua cama, pronta para dormir, quando a porta do quarto se abriu. Sobressaltada, ela olhou para a porta e viu a enorme silhueta da Fera. Ela puxou o lençol até o pescoço, se encolheu no canto da cama e começou a gritar.
- Não! Vá embora! Ainda não é minha vez! Você esteve aqui a menos de uma semana!
- E voltarei todas as vezes eu que quiser. - disse a Fera, com sua voz grave como um trovão. - Apenas fique quieta, sabe que não vou feri-la.
A Fera se aproximou da cama e puxou o lençol, jogando-o no chão. Olívia continuava a gritar e espernear quando ele a puxou pelas pernas para a beirada da cama. Lutava com ele como uma gata furiosa. Ele disse em tom baixo, entre os dentes, enquanto tentava segurá-la:
- Fique quieta! Quanto mais quieta ficar mais rápido eu serei; depois vou embora!
- Não me toque! Vá embora agora, seu monstro! - e dizendo isso, bateu no rosto dele com toda a força.
A Fera ficou imóvel por um momento, e rosnou alto mostrando as presas, os olhos faiscando de raiva. Sentia um ímpeto de matá-la naquele exato momento. Mas lutava pra se controlar, resgatando o que ainda havia de humano dentro dele. A Fera segurou os pulsos dela com suas enormes mãos, e os amarrou com o lençol. Em seguida enlaçou os tornozelos dela no mesmo amarrado, fazendo com que ela parecesse um novilha fujona. Ele a virou de lado na cama, e encaixou-se dentro dela, e ela gritou novamente. A Fera a possuiu com rapidez, e rosnou novamente quando o orgasmo chegou, um urro grave, com mais raiva do que prazer. Então ele se foi, deixando-a ainda amarrada sobre a cama, chorando e praguejando.
Dona Ana entrou no quarto pouco depois da Fera ter saído. Desatou os nós do lençol, verificando se a moça estava ferida. Como de costume, ela estava bem, tão bem quanto podia estar naquele momento. A Fera nunca as machucava de verdade. Mas Dona Ana sempre vinha ver suas meninas, sempre as confortava, sempre cuidava delas.
- Por Deus, Olívia. - disse Dona Ana em um tom maternal. - Você o irritou novamente? Sabe que não pode evitá-lo; então apenas se comporte, e ele irá embora tão rápido quanto veio.
- Eu o odeio. Odeio aquele monstro. Eu o odeio. - Olívia repetia, com as lágrimas de raiva ainda escorrendo por sua face.



Na manhã seguinte, Bela chegou ao castelo da Fera. Fora mandada pelo pai, para saldar um débito que este tinha com o dono do castelo. O pai pareceu não ter dúvidas em escolher Bela dentre as três filhas para enviá-la ao castelo onde ficaria para sempre. Bela era tida por toda a família como um pouco esquisita. Era sonhadora demais, vivia enfiada em livros de aventuras, que contava histórias sobre monstros e dragões, pelos os quais ela nutria certa simpatia. Enquanto suas irmãs procuravam bons partidos em se casarem, Bela mergulhava nas histórias que lia e sonhava em um dia deixar o vilarejo em que nascera.
Não pareceu de todo contrariada quando o pai lhe dera a notícia. A curiosidade cutucara-a como um espeto, suplantando o medo. Todos no vilarejo conheciam a lenda da Fera de aparência monstruosa que morava no castelo, embora poucos já o tivessem visto ou soubessem como era sua real aparência. E foi assim, com mais perguntas que respostas, que Bela chegou ao seu destino naquela manhã.
Dona Ana veio recebê-la e a levou para dentro. O interior do castelo era escuro mesmo à luz do dia. Dona Ana explicou que a Fera gostava da penumbra, pois achava que ocultando parcialmente sua imagem as mulheres ficavam mais calmas.
Bela foi levada à cozinha, onde se encontravam as outras. Eram nove moças, mais ou menos da idade dela, que se encontravam na mesma situação; haviam sido mandadas por suas famílias para viver no castelo. Dona Ana apresentava Bela às outras moças, quando a Fera parou à porta da cozinha. Dona Ana adiantou-se em apresentá-la.
- Meu senhor, esta é Bela, a filha do mercador, que chegou hoje como o prometido.
- Seja bem vinda a esta casa, Bela. Eu sou aquele que todos conhecem como a Fera; sou o senhor desse castelo. De hoje em diante, aqui é sua casa. Você obedecerá a mim e a Dona Ana, que é minha governanta. Como todas as outras, você trabalhará na casa durante o dia, fazendo tudo o que Dona Ana lhe mandar. E à noite descansará, porém nunca tranque a porta do seu quarto. É a hora em que costumo visitá-las, especialmente as novatas no dia em que chegam. Alguma pergunta?
Bela mal podia conter o espanto de ter ouvido a última frase. Mas limitou-se a dizer:
- Não, senhor. Eu entendi.
- Muito bem. - a Fera respondeu e, com um olhar para a governanta, completou. - Dona Ana vai-lhe mostrar o seu quarto.
Então a Fera se virou e saiu. As mulheres, que não ousaram se mover desde que a Fera chagara, voltaram aos afazeres da cozinha em silêncio. Dona Ana conduziu Bela gentilmente através do corredor, e subiram a larga escadaria de madeira que dava para o segundo andar, onde ficavam os quartos das mulheres. Assim que alcançaram o topo da escadaria, Bela perguntou:
- Dona Ana, o que ele disse é verdade, ou só queria me pôr medo?
- Eu lamento, mas é verdade, querida. - disse a governanta, no seu costumeiro tom maternal. - Ele sempre visita uma ou duas por noite, não há como evitar. E, como ele disse, sempre as novatas no dia em que chegam. Mas ele não é tão bruto quanto parece, tenha certeza que não irá ferí-la. Apenas seja boazinha, e tudo acabará rápido, está bem?
Bela fez que sim com a cabeça. O que mais poderia dizer?



O dia passou mais rápido do que Bela imaginara. Dona Ana a levou pelo castelo e lhe explicou como o serviço da casa era feito. Também disse a Bela que ela poderia andar por todo castelo, com duas exceções; apenas a biblioteca e o quarto da Fera eram proibidos para as mulheres. Nesses cômodos, apenas Dona Ana entrava.
À noite, Bela se recolheu ao quarto que lhe fora destinado. Quase cedeu à tentação de trancar a porta, mas lembrando-se de que a Fera recomendara expressamente que ela nem pensasse nisso, desistiu. Não pretendia contrariar a Fera já no primeiro dia, e ficou imaginando que conseqüências um ato de rebeldia como esse poderia ter.
A Fera era o dono do castelo, e de todas as mulheres ali, pensou Bela, afastando-se da porta e deitando-se na cama. Ele tinha o poder, um poder que vinha provavelmente de seu tamanho e sua presumível força física. Amedrontada, Bela começou a especular o que a Fera faria com ela naquela noite. Veio-lhe a mente a imagem de Fera que vira naquela manhã, a silhueta imensa na penumbra. Ele era muito mais alto que Bela, e possuía um corpo largo e sólido, coberto de pelos como os de um animal. Não pode ver a face dele, mas ficara extremamente impressionada com a voz, que era rouca e muito grave, semelhante ao rugido de um animal enraivecido.
Enquanto ainda mantinha na mente a imagem da Fera e a voz dele ecoava em sua lembrança, Bela sentiu uma estranha sensação, ao mesmo tempo que percebia seu coração pulsando a ponto de sair pela boca. Ela mantinha a lamparina acesa, e vigiava a porta. Mas em vez de temer que ela se abrisse, ela percebeu que esperava. Em sua mente, ela imaginava a porta se abrindo e a Fera entrando; e antecipava o que e como a Fera faria com ela. Ela corou levemente quando percebeu que além de sua mente, seu corpo também especulava as possibilidades. Ela se tocou e percebeu que estava visivelmente excitada. Mal tinha acabado de tirar a mão debaixo da camisola, quando a maçaneta da porta girou.
A Fera abriu a porta lentamente e, parado à soleira, olhou para Bela. Então entrou em silêncio, e fechou a porta atrás de si. Ele encarou Bela, que estava recostada nos travesseiros, atônita e imóvel. A lamparina o iluminava fracamente, mas permitiu que Bela visse mais do que vira naquela manhã. A Fera tinha um rosto animalesco, e a boca entreaberta mostrava presas impressionantes. Os olhos escuros a olhavam como o faria um animal pronto para o ataque. Mas, sem demonstrar nenhuma violência em sua voz rouca, ele ordenou:
- Apague a luz.
- Por favor, deixe-a acesa. - pediu Bela, a voz trêmula pelo nervosismo.
- Como queira. - retorquiu a Fera.
Ele se aproximou da cama, e Bela continuava imóvel, os olhos fixos nele. A Fera se inclinou sobre ela, e tocou as coxas dela com as enormes e rudes mãos, e deslizou a camisola até a cintura. Olhava Bela fixamente e parecia analisá-la. Bela sentiu o toque firme e rude das mãos ásperas na sua pele e seus joelhos tremeram involuntariamente; o coração rufava como se fosse explodir. Mas ela não tirou os olhos da Fera, e ele continuava a encará-la, produzindo um ruído baixo com um rosnado cada vez que expirava, o peito largo subindo e descendo com a respiração pesada. As mão dele a seguraram com mais força e quando ele mergulhou a cabeça entre as coxas dela, a alma de Bela quase lhe saiu do corpo.
Bela sentiu a respiração dele em suas partes mais sensíveis, e em seguida foi invadida por uma língua enorme a absurdamente quente. A Fera a lambia e penetrava, e a língua áspera serpenteava com voracidade sobre a carne dela. Ele parou, com um rosnado profundo e alto, quando Bela teve o primeiro orgasmo.
A Fera se levantou, com a respiração ainda mais pesada e ruidosa, e arrancou suas próprias roupas com rapidez e violência. Bela ainda tentava controlar sua respiração e a excitação que sentia, que começavam a se misturar a uma onda de pânico enquanto observava a Fera tirar a roupa. Abaixo do ventre peludo da Fera, o desejo dele pulsava, vermelho e lubrificado, e de um tamanho imensurável. A Fera se aproximou e, agarrando-a pelas coxas novamente, puxou Bela para a beirada da cama, de maneira firme e impaciente. Ele a encarou com os olhos famintos, esforçando-se para articular as palavras, a voz rouca e profunda, assim que percebeu o pânico no olhar dela.
- Irei devagar. Não tenha medo.
Bela foi a atingida por uma nova onda de excitação quando a Fera fez exatamente o que prometeu. Apesar de Bela poder sentir como os braços dele tremiam enquanto a seguravam, ele deslizou para dentro dela lenta e apenas parcialmente, recuando ao primeiro sinal de que Bela havia sentido dor. A Fera prosseguiu penetrando-a assim, com apenas uma parte de seu enorme tamanho, lentamente escorregando para dentro e para fora dela, lutando para manter a lucidez humana que restava nele. Bela gemeu, sentindo-se totalmente preenchida, e achou ter visto a Fera mostrar os dentes por um momento, num lampejo de ferocidade, assim que a ouviu gemer.
A Fera começou a penetrá-la gradualmente mais fundo, e Bela o aceitava sem protestar, sentindo o corpo queimar por dentro, a pele arrepiada, os seios enrijecidos, as sensações pairando entre a dor e o prazer. Bela estava quase fora de si quando segurou os pulsos da Fera com força, sentindo o corpo vibrar naquela onda que precede o orgasmo, e gemia sem parar. Ela sentiu a Fera se inclinar sobre ela, e segurar-lhe os seios ainda sob a camisola. Quando ele apertou os mamilos, Bela deu um gritinho de agonia e desejo, e arqueou o corpo num longo e profundo orgasmo. A Fera acelerou as investidas, vendo o corpo dela sacudir a cada estocada curta e forte. Então, com um urro alto e longo, ele gozou, penetrando-a por completo, entregando-se a violentos espasmos.
Quando ele saiu de dentro dela, eles se olharam por um longo momento, ambos ofegantes, os corações rufando como o som de uma manada de búfalos.
A Fera olhou para ela por um momento mais, e se foi.
Bela pensou em falar, mas estava tão exausta e dolorida que isso parecia um esforço impensável.
Aninhou-se na cama, e estava prestes a dormir quando, no momento seguinte à saída da Fera, Dona Ana entrou no quarto às pressas. Entretanto, para surpresa da governanta, ela encontrou Bela com uma expressão lânguida e saciada.
- Bela, querida, eu estou aqui... Bela? Você está bem?
- Hum? Sim, estou. - respondeu Bela, com a voz arrastada e sonolenta.
- Você... ele esteve aqui? - indagou a governanta.
- Esteve... - respondeu Bela.
- E está tudo bem com você?
- Humrrum. - respondeu ela, já com os olhos fechados.
- Ah... - respondeu Dona Ana, que começava a suspeitar do que havia acontecido. - Então já vou, querida. Se precisar de algo me chame, está bem?
- Humrrum... - respondeu Bela, que já dormia antes de Dona Ana sair do quarto.



Nos dias que se seguiram, Bela trabalhava durante o dia olhando furtivamente em volta, procurando ver a Fera, mas ele parecia não estar em lugar algum. À noite, ela se recolhia cedo ao seu quarto, antecipando e fantasiando a próxima visita da Fera. Entretanto, três dias se passaram e a Fera não veio. Nesse tempo, as lembranças da primeira noite povoavam a mente de Bela, ao mesmo tempo que, ao longo dos dias, as outras mulheres conversavam com ela, e lhe contavam barbaridades sobre a brutalidade da Fera. Bela chegou até mesmo a se questionar se não havia delirado naquela noite, pois a Fera de suas lembranças não era a mesma dos relatos horrorizados das outras moças. Mas as lembranças persistiam, as sensações que a Fera provocara ainda eram vívidas em seu corpo, e o desejo de vê-lo abrir de novo a porta do seu quarto só aumentava.



No quinto dia de sua estada no castelo, assim que viu a governanta, Bela perguntou:
- Por onde tem andado a Fera, Dona Ana? Não o tenho visto em lugar algum há dias.
- Sabe que ele evita andar pelo castelo durante o dia, querida, para não deixá-las nervosas. Embora, de fato, nos últimos dias ele tenha andado mais sumido que de costume. Por que pergunta?
- Queria vê-lo. - respondeu Bela, timidamente.
- Quer vê-lo? Por quê? - indagou a governanta, surpresa.
- Para falar com ele, não sei. - Bela levantou os ombros, num gesto casual. - Ou apenas para vê-lo, saber que está por perto. Eu... tenho sentido falta dele.
Dona Ana a olhava como se pegasse uma criança numa mentira.
- Está me dizendo a verdade, Bela? Sente mesmo vontade de estar perto da Fera?
- Sinto. Tenho pensado nele todos esses dias. - Bela respondeu com sinceridade.
- Pois então vá até ele. - e, virando-se, começou a arrumar comida em um prato. - Acho que ele precisa de companhia. Está há dias enclausurado na biblioteca. Diga que eu a mandei levar isto por que ele não comeu nada hoje. - e dizendo isso, entregou à Bela uma bandeja com um prato que continha quatro panquecas de carne assada. - Agora vá.
Bela percorreu o caminho até a biblioteca com o coração aos pulos. A biblioteca era proibida para elas, e Bela achava que a Fera não ficaria nada feliz em vê-la por lá. Mas estava cumprindo uma ordem de Dona Ana, argumentaria se fosse preciso. Respirou fundo ao chegar à porta fechada. Bateu na porta levemente. A voz da Fera respondeu lá de dentro, num tom indiferente.
- Vá embora, Dona Ana. Não estou precisando de nada, obrigado.
- Sou eu, Bela. Dona Ana mandou que eu lhe trouxesse uma refeição. - disse Bela, tentando não parecer nervosa. - Ela está preocupada por que você não come.
- Entre. - disse a Fera, depois de um momento.
Bela entrou e recebeu instruções para colocar a bandeja sobre a mesa. A Fera disse que não estava com fome; talvez comesse mais tarde. Bela olhou para ele, enorme sentado ao lado da comprida mesa trabalhada. Tinha um livro à frente, mas estava fechado. A Fera a olhava fixamente, sem nada dizer. Para controlar o nervosismo, Bela percorreu com o olhar a biblioteca. Não pode conter uma exclamação, enquanto percorria com os olhos as paredes à sua volta; havia centenas de volumes, arrumados em estantes que iam até o teto.
- Gosta de ler? - a Fera perguntou, repentinamente. Sua voz era amistosa.
- Sim, adoro. - respondeu ela, relaxando um pouco. - E você também, pelo que vejo. Nunca estive em uma biblioteca tão farta.
A Fera pareceu satisfeita com o elogio. Ele adorava aquela biblioteca, e já lera quase tudo. Então disse à Bela, em um tom afável:
- Já que gosta de livros, pode vir aqui quando quiser. Pegue qualquer livro que desejar ler.
- Oh, obrigada. - disse Bela, virando-se para ele, os olhos brilhando. Então leu o título do livro à frente dele. - Os Três Mosqueteiros...
- Já leu? - perguntou a Fera.
- Não, nunca tive oportunidade... - respondeu. Estava ficando cada vez mais à vontade com ele.
- Então leve-o. - disse a Fera, e empurrou o livro para ela.
- Mas você o estava lendo. - retorquiu Bela, mas já se abraçara com o livro.
- Leio outra coisa. - disse a Fera, sem desviar os olhos dela. - Pode levá-lo.
Bela o olhou em silêncio. Ele não era assustador com as outras diziam. Era enorme e animalesco, mas não assustador. Lembrou-se novamente do dia em que chegara, do momento em que ele esteve em sua cama, e de todas as sensações que explodiram dentro dela. Perguntou, quase sem pensar:
- Por que não tem ido ao meu quarto?
- Tenho andado ocupado. - respondeu a Fera imediatamente, enquanto tentava lidar com o choque que a pergunta lhe provocara.
- Imagino o quanto deve ficar ocupado, com mais nove mulheres vivendo no castelo. - Bela resmungou para si mesma. Não deixou de ficar espantada consigo mesma, pela pontada de ciúme que o comentário revelara.
- Ora, pois eu não estive... - A Fera se interrompeu no meio da frase. Ficara tão estarrecido por também perceber o ciúme na frase dela que começara a dizer o que não queria. Os dois se olhavam sobressaltados, enquanto a frase interrompida pairava entre eles. Mas a Fera não costumava recuar. E estaria recuando não concluísse a frase que começara. Resolveu terminá-la o mais breve possível. - Eu não estive com nenhuma delas desde que estive com você. - disse a Fera, num fôlego só.
- Não? - retorquiu Bela, boquiaberta.
- Não. E o que faço ou deixo de fazer não é da sua conta. - disse a Fera, tentando encerrar a conversa. - Agora vá. Dona Ana deve estar precisando de você na cozinha.
Ele estava encabulado, ela notou. Bela esboçou um sorriso, em parte satisfeita em saber que ele não estava visitando as outras e em parte por ele se mostrara vulnerável ao confessar isso. Ela continuava com uma expressão um tanto travessa quando perguntou, apenas para provocá-lo.
- E por que não?
- Saia agora! - disse a Fera, entre os dentes.
- Sim, sim, já estou saindo. - ela deu dois passos em direção à porta, mas retornou, abraçada ao livro. - Ah, não agradeci pelo livro. Obrigada. - então, como teria feito uma menina de dez anos, ela pulou para o lado dele, deu-lhe um beijo estalado no rosto peludo, e correu para a porta.
- Saia! - ela ainda ouviu a Fera gritar, antes de bater a porta atrás de si.



Bela tinha quase certeza que a Fera viria naquela noite. Mas as primeiras horas da noite se passaram, e a Fera não apareceu. Bela se perguntava o que teria ela feito para desagradá-lo. Além do mais, quando estivera com ele naquela tarde, ela não percebera nenhuma demonstração de raiva da parte dele. Achou que, naquele breve momento, eles gostaram da companhia um do outro. Não conseguia entender por que ele não voltara a procurá-la.
Durante o resto da noite, Bela estava frustrada demais para dormir. Sentou-se na cama, e abriu Os Três Mosqueteiros. Mergulhando na história, ela leu sem parar, até que os primeiros raios de sol anunciaram a hora de sair da cama.



Naquela manhã, assim que concluiu seus afazeres, Bela pegou o livro e rumou para a biblioteca. Bateu à porta e recebeu o convite para entrar. A Fera estava sentada à mesa, como no dia anterior. Parecia realmente imenso, curvado sobre o livro, um pesado volume que jazia aberto à sua frente. Levantou os olhos de sua leitura e encarou Bela.
- Vim devolver o livro. - disse ela, enquanto se aproximava.
- Não gostou? - perguntou a Fera, sem entender.
- Já o li todo. - respondeu ela, pondo o livro à frente dele. - E adorei.
- Você o leu todo de ontem para hoje? - retorquiu a Fera, ponderando como ela teria conseguido esse feito.
- Li a noite toda. Não conseguia dormir. - ela o encarou por um longo momento, depois desviou os olhos da Fera para percorrer a estantes. - Posso pegar outro livro?
- Qualquer um. - respondeu, com a voz ainda mais rouca. O corpo dele era algo selvagem e temperamental, que ficava agitado sempre que ela o olhava nos olhos daquele jeito.
Ela caminhou pelas estantes, passando os olhos pelos livros, parando quando identificou alguns dos autores de que gostava. Estavam quatro prateleiras acima de sua cabeça. Antes que a Fera pudesse se mexer, ela já puxara para si a escada baixa que ficava ao lado da estante para esse fim. De costas para ele, Bela subiu os degraus para chegar aos livros. A Fera a observava com atenção. Ela era realmente bela, ele pensava, os cachos castanhos derramando-se pelas costas, o quadril volumoso sob a longa saia de veludo.
- Oh, Mary Shelley, Victor Hugo, Bram Stoker... - ela comentava - mas já li todos esses. Quero algo novo. Dante Alighieri! Mas que volume é esse, ao lado da Divina Comédia?
Ela se esticou para alcançar o livro mais distante. Ficou nas pontas dos pés, e enquanto se esticava, seus quadris se empinaram involuntariamente. A Fera rosnou baixinho. Bela compreendeu de imediato a reação dele. Agarrou o livro e desceu os degraus, como se nada tivesse acontecido. Aproximou-se da Fera, lendo o título:
- A Vida Nova. Gosto de Dante, mas esse eu ainda não li.
- Eu já. - disse a Fera. - É uma coletânea de poesias, que falam do quanto um homem pode vir a amar uma mulher e a quantidade de dor que pode sentir por causa disso.
Bela olhava fixamente e Fera sentada à sua frente. Com ele sentado, os olhos dos dois ficavam à mesma altura. Eles se olharam por um longo momento, antes que ela perguntasse:
- É disso que está fugindo? Tem medo se apaixonar?
- Não estou fugindo de nada. - respondeu a Fera, a voz grave como um trovão à distância.
- Por que nunca mais foi ao meu quarto?
- Me pergunta isso tantas vezes que faz parecer que deseja que eu vá! - ele levantou a voz, exaltado. - É isso o que quer?!
- Eu acho que você sabe a resposta. - respondeu Bela, enquanto sustentava o olhar dele, decidida.
A Fera se levantou bruscamente e, com um rápido movimento, a ergueu do chão. Ela sentiu um momento de pânico pela rapidez com que ele avançara, mas logo compreendeu que ele não iria machucá-la. Quando deu por si, seus olhos estavam novamente à altura dos dele, mas a Fera estava de pé, e a sustentava no alto, com as enormes mãos por baixo de seus quadris. Sem perceber, ela havia se agarrado aos longos pelos que envolviam o pescoço dele como a juba de um leão, e enlaçara a cintura dele com as pernas. Ele a segurava como se ela fosse leve como uma criança. Eles se olhavam, paralisados naquele momento, tensos, as respirações pesadas. O coração dela quase saltava do peito, que arfava sem parar. Podia sentir a força dele, os dedos rígidos sob os quadris dela, o lampejo selvagem que ardia nos olhos dele, e a tensão que ele se impunha por não passar a ação que desejava. Algo o impedia. Mas ela desejou que ele avançasse. Bela apertou as coxas contra o corpo dele, e puxou os cabelos dele pra si. Então ela mordeu de leve os lábios dele, ouvindo-o rosnar enquanto as mãos rudes lhe apertavam a carne.
Ele inclinou a cabeça até o pescoço dela, cheirando o perfume de seus cabelos, mordendo-lhe o pescoço e o ombro. Bela se sentia levemente entorpecida, apreciando a agonia dos dentes dele na sua carne, sentindo o movimento das mãos dele que, ainda por baixo de seus quadris, trabalhavam para desafivelar o cinto. Ela sentiu o calor que vinha dele, quando a calça pendeu até o chão, e as enormes mãos da Fera roçaram-lhe a pele das coxas, enquanto suspendiam a saia rodada. Então, com ela agarrada a ele, as pernas abertas e firmemente enlaçadas em sua cintura, a Fera a penetrou, as mãos brutas agarrando os quadris dela enquanto ele rugia louco de desejo. De pé, com as pernas rígidas troncos de árvore, ele se empurrava para dentro daquela fêmea quente e molhada. As mãos imensas sustentavam o peso dela, e subiam e desciam os quadris de Bela, trazendo-a para junto do seu corpo cada vez que estocava mais e mais profundamente. Bela estava agarrada ao pescoço dele, naquela cavalgada selvagem, sentindo o corpo queimar por dentro, as pernas trêmulas, o rosto em brasa. As coxas dela começaram a se contrair num ritmo vertiginoso, apertando o corpo dele, enquanto ele a invadia cada vez mais rápido. Ela abafou o grito quando o êxtase chegou, a pele sensível ao roçar dos pelos do corpo dele, e ouviu o urro da Fera quando ele apertou seu corpo contra o dela na última investida.
As pernas da Fera tremiam violentamente quando ele deu dois passos para trás e se sentou na cadeira, com Bela ainda em seu colo. O peito dele sacudia à medida que o coração socava lá dentro. Recostada sobre o ombro dele, abraçada àquele corpo gigantesco, Bela recuperava a respiração, sorvendo o ar como se voltasse de um afogamento. Permaneceram como estavam por um longo momento, abraçados um ao outro, os corpos lentamente voltando à calma. Foi Bela, mais uma vez, que rompeu o silêncio.
- Não imagina como senti sua falta. - ela sussurrou ao ouvido dele.
- Não mais. - retorquiu a Fera, com a voz mais calma que ela já ouvira vindo dele. - Essa noite me espere acordada.
- Eu esperarei. - garantiu Bela, com os olhos fechados, as mãos brincando com a densa cabeleira em torno do pescoço dele.




Com o passar das semanas, ao outras moças já haviam se afeiçoado à Bela. Sabiam que a Fera não havia procurado por nenhuma delas desde que Bela chegara, e encaravam isso como um presente.
Bela e as outras conversavam animadamente na cozinha, enquanto faziam suas tarefas diárias. De repente Olívia fez um comentário mordaz:
- Mas não é uma beleza? Isso mesmo, festejem a nossa querida Bela. Todas sabemos que ela anda abrindo as pernas para ele em qualquer lugar do castelo. E vocês estão achando isso uma maravilha. São tolas demais para perceber que essa novata irresponsável está apenas incentivando aquela coisa. Quando ele se cansar do brinquedo novo, voltará a procurar cada uma de nós. Só que então aquele monstro vai exigir que nós sejamos tão solícitas quanto a vadia da Bela tem sido.
- Olívia! Segure essa boca! - exclamou Dona Ana.
- O que você disse? - Bela havia se aproximado de Olívia, e a encarava com dureza.
- Eu disse que você é uma vagabunda. - retorquiu, em tom de desafio.
- Olívia! - gritou Dona Ana.
- Não. Sobre ele. O que você disse? - indagou Bela, secamente.
- Que ele é um monstro horroroso e que não quero aquela coisa asquerosa na minha cama nunca mais!
Bela a esbofeteou com as costas da mão de maneira tão intempestiva que Olívia estava caída, sentada no chão da cozinha, antes que as outras pudessem entender o que tinha havido.
- Bela! - gritou Dona Ana, paralisada com o choque.
- Monstros têm atitudes monstruosas, Olívia, e isso não se aplica a ele. - disse Bela, com os olhos ainda furiosos. - Ele está bem longe de ser o monstro que vocês me fizeram acreditar que ele era. Tem sido manso e justo comigo, e acredito que também o seja com todas vocês. Então, não seja injusta. E se deseja que seu rosto continue exatamente como é agora, meça a maneira como fala dele na minha frente.
A cozinha ficou em silêncio. Todas as mulheres estavam paralisadas nos seus lugares. Olívia, ainda no chão, esfregava o rosto; os olhos faiscando de fúria.
A voz de Bela soou mais branda:
- Dona Ana, posso ver se tem algo para ser arrumado no segundo andar?
- Pode, minha filha. Vá. - respondeu a governanta, com a mão ainda sobre o peito.
- Com licença então. - e, virando-se, saiu da cozinha.
Bela subiu as escadas correndo, os pés batendo com força nos degraus de madeira.
- Bem, agora voltem todas ao trabalho. - ele ouviu Dona Ana dizer às mulheres.
Do lado de fora da porta da cozinha, a Fera havia ouvido tudo o que se passara.




Quando Bela acordou na manhã seguinte, a Fera já não estava ao seu lado. Ela estranhou um pouco; era a primeira vez que a Fera acordava tão cedo desde que passara a dormir em seu quarto.
Bela trocou de roupa e desceu as escadas, mas não encontrou ninguém pelo caminho. Não vira Dona Ana, nem nenhuma das outras mulheres; o castelo parecia estar vazio.
Encontrou a Fera na biblioteca, e perguntou a ele onde estavam todos. A Fera lhe explicou que havia mandado todas as mulheres de volta para suas famílias. Dona Ana fora incumbida de acompanhá-las, e havia saído cedo, levando todas elas consigo. Dali em diante, além da Fera, apenas Bela e Dona Ana habitariam o castelo.
- Eu quero apenas você. - disse a Fera. - Não há motivo para manter as outras.
Bela corou, arrebatada por uma profunda sensação de felicidade. Notando a reação dela, a Fera aproveitou o momento para perguntar sem rodeios:
- Bela, aceita se casar comigo?
Bela chegou a abrir a boca, mas a fechou novamente, sem saber ao certo o que dizer. Estava um pouco atordoada com todas as súbitas mudanças daquela manhã. Ela disse à Fera, da maneira mais doce que pode, que precisava pensar antes de responder. A Fera concordou com a cabeça e não pareceu zangado com a resposta. Mas estava profundamente decepcionado.



Entretanto, as novidades daquele dia ainda não haviam terminado. Dona Ana voltou do vilarejo com notícias para Bela; o pai dela estava muito adoentado.
Bela foi dizer a Fera que precisava ir ver o pai, e explicou a ele o que Dona Ana lhe dissera. A Fera recebeu a notícia com visível assombro. Bela tentou amenizar o impacto que a notícia lhe causara.
- Fera, eu só ficarei fora um tempo. Depois que tudo se resolver, eu voltarei.
- Não vá, Bela. Se for, acabará não voltando. - sua voz demonstrava profundo pesar.
- Preciso ir, ele é meu pai. Jamais vou me perdoar se algo acontecer a ele sem que eu o tenha visto. Eu preciso ir. - ela se sentia péssima, por ver aquela Fera imensa quase implorando.
- Case-se comigo primeiro. - disse a Fera, como se agarrasse sua salvação.
- Se quer se casar comigo precisa primeiro confiar em mim! Estou lhe dizendo que voltarei! - retorquiu Bela, o coração partido pela expressão dele.
- Espero que se lembre de sua promessa, Bela. Morrerei aqui se você não voltar.




Na manhã seguinte, Bela partiu para o vilarejo. Chegando a casa de seu pai, encontrou-o de cama, bastante enfermo. O velho mercador ficou feliz em ter sua filha caçula de volta, uma vez que as irmãs de Bela não tinham tempo para cuidar dele. Bela procurou não contrariar o pai, mas deu a entender que não voltara para sempre. Dentro dela não havia dúvida sobre seu retorno ao castelo da Fera.
Bela cuidou de seu pai até que ele se recuperasse totalmente, ficando à cabeceira dele dia e noite. Assim, os dias se passaram sem que Bela se desse conta. Quando o mercador já estava forte o suficiente para que Bela o deixasse, três semanas já haviam transcorrido. O pai de Bela e as irmãs tudo fizeram para convencê-la a ficar, mas Bela estava irredutível. Entre despedidas e súplicas, Bela partiu de volta ao castelo.


Chegou ao castelo no final da tarde, e encontrou Dona Ana no jardim. A governanta pareceu profundamente aliviada em vê-la. Disse a Bela que só não foi procurá-la no vilarejo por que a Fera a proibiu expressamente, senão teria ido. A Fera não estava nada bem há dias. Deixara de se alimentar, consumido pela tristeza em que se afundara desde que Bela partira. Ele tinha certeza de que não a veria nunca mais.
Bela subiu correndo ao quarto da Fera, e o encontrou jogado sobre a cama, imóvel, os olhos fixos no teto. Um calafrio de horror percorreu a espinha de Bela, que por um momento chegou a pensar que ele estivesse morto. Correu até a cama, e enlaçou a imensa Fera, num abraço tão apertado quanto a saudade apertara que seu peito todos os dias.
- Por Deus, Fera, o que houve com você?
- Bela... está de volta... - disse a Fera, e sua voz parecia exausta.
- Claro que estou de volta. Eu lhe disse que voltaria. Como eu poderia viver longe de você? - disse Bela, as lágrimas teimosamente escorrendo-lhe pelo rosto.
- Case-se comigo, Bela. - a Fera parecia um pouco melhor, apenas com a presença dela. - Quero me tornar o homem que você merece.
- Oh, Fera é claro que... - Bela parou de repente, algo parecia estar errado. - O que quer dizer com se tornar o homem que eu mereço? Você já é tudo o que desejo!
Então a Fera disse a ela que não havia mais por que esconder seu segredo, agora que tinha certeza que Bela o amava. Contou-lhe tudo sobre a maldição que carregava, desde que a bruxa o encantara, desafiando-o a encontrar alguém que o amasse de verdade enquanto ele exibisse a grotesca aparência que ela lhe dera. Falou sobre os anos de tentativas e de como só havia encontrado preconceito e rejeição; falou sobre a desistência e a desesperança, e de como as mulheres haviam se transformado em corpos vazios para ele. Até que Bela chegou, e sua vida mudou para sempre. Bela havia lhe trazido a esperança do fim de sua maldição; bastava para isso que se casasse com ele.
- Deixarei de ser essa Fera, para me tornar um homem novamente. - finalizou ele.
- Não! - exclamou Bela, sobressaltada; logo em seguida reconhecendo seu egoísmo. - Quer dizer... oh Fera, desculpe. Me diga o que você quer. Deseja voltar a ser como era? Quer sua vida de volta, sair desse castelo, andar pelas ruas livre dos olhares e comentários?
- Durante anos desejei isso, Bela. Mas agora vejo que só quero você. Quero vê-la feliz, e mais nada. - disse a Fera, olhando-a fixamente.
- Então, minha resposta é não, meu querido. Não me casarei com você, mas serei sua eternamente. Tudo o que desejo é ser feliz com a minha Fera.
A Fera não pereceu de todo surpreso com a resposta que Bela lhe deu. Ele abraçou sua Bela, agradecido pela sorte que o destino lhe reservara. Eles eram tudo o que importava um para o outro.



A Bela e Fera viveram juntos no castelo até o fim de suas vidas. Muitos anos se passaram, e ambos estavam bem velhos quando a Fera adoeceu gravemente. Então Bela se casou com a Fera, e ele se transformou em um senhor de aparência austera, com cabelos e barba brancos como o cume das montanhas. Ele morreu dias depois, e seu enterro foi digno de um rei. Bela o seguiu semanas mais tarde; e no vilarejo dizem que as vozes de ambos ainda podem ser ouvidas, rindo juntos no castelo.
Eles realmente foram felizes para sempre.