segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Série Zaíra - episódio 1 - A necromante e o savante

 A necromante e o savante


 Naquela noite ela estava em uma taverna muito longe da região que costumava considerar como seu lar. Havia um motivo para ter viajado tanto: o mago Leth, amigo de longa data, precisava dela em uma missão, e lhe mandara um recado.
 Sua fama a precedera, e todos naquele vilarejo comentavam sobre a poderosa necromante que havia chagado. Havia mais do que respeito naqueles comentários; a maioria estava com medo dela. Então ela decidiu que sua estadia seria a mais discreta possível.
 Sentara-se no canto mais escuro, onde havia um balcão e dois bancos altos, e acima do balcão um painel de metal polido que refletia o ambiente como um espelho. Hog, seu demônio de estimação, se sentara no banco ao seu lado e observava o movimento da taverna, as pessoas que iam e vinham, os olhares furtivos comentando a presença dos dois. A maioria dos fregueses daquele estabelecimento era de humanos como ela, salvo alguns elfos e dois anões. Mas não eram o tipo de humanos que andavam com demônios azuis que portavam machados de duas mãos.
 Encoberta pela penumbra daquele canto em que se ocultara, ela relaxava um pouco. Nunca baixava a guarda, e esse era o motivo da presença constante de Hog ao seu lado; ele era seu servo, seu guardião. Mas naquele momento ela não pensava em conflitos, em batalhas, em estratégias, como era seu costume. Era a imagem do savante que vira no acampamento naquela manhã que não lhe saía da cabeça. Um savante. Já ouvira falar deles, mas nunca vira antes um da raça. E ele era ainda mais impressionante do que todos os relatos que ouvira.
 O mago também o havia recrutado para a mesma missão. Precisava de um caçador, e o savante era forte e experiente, apesar de um pouco indomável. As palavras do mago fizeram com que ela ficasse ainda mais curiosa sobre Grathor, o savante, por isso ela o observara naquela manhã.
 Ela havia se sentado à sombra de uma árvore, com um pergaminho no colo, e fingia ler enquanto o observava de longe. Grathor havia se afastado do acampamento para treinar. Empunhava uma enorme espada de duas mãos, e dava golpes no ar, fazendo várias manobras e girando o corpo com rapidez e destreza. Ele era imenso, devia ter uma vez e meia a altura de um homem, tinha um corpo largo e sólido, com músculos volumosos. O cabelo negro era comprido e espesso, derramando-se em inúmeras tranças que serpenteavam pesadamente até o meio das costas quando ele girava o corpo. O rosto era duro e agressivo, com um maxilar forte e quadrado, e a testa proeminete fazia sombra sobre os olhos estreitos e escuros. Não usava barba, mas também não a removera de todo, por isso a camada de pelos curtos e escuros não ocultava a boca, que era o ponto forte do rosto; era grande, cheia e tinha caninos salientes, quase animalizados. Ele a olhara apenas uma vez, quando trocou a espada pelo arco para continuar seu treinamento. Nesse momento ela havia sustentado o olhar dele por um instante, depois baixara os olhos para o pergaminho com uma dissimulada indiferença. Mas no peito dela o coração socava como uma marreta, e outras partes do corpo também davam sinais do quanto ela o tinha achado bonito. Ele era um animal, pensava ela, mas era inteligente, e parecia até mesmo nobre. Um nobre selvagem, forte com um búfalo. Era tentador.
 Subitamente, ela submergiu de seus pensamentos quando ouviu Hog lhe dizer em voz baixa:
 - Zaíra, temos companhia.
 Ela levantou apenas os olhos, vasculhando o espelho a sua frente para encontrar o alvo do comentário de Hog. Então ela viu o savante. Grathor estava de pé logo depois da entrada da taverna, e olhava fixamente para ela.

 Haviam dito a ele que a necromante estava lá dentro. Naquele vilarejo quase ninguém falara com ele, mas conseguira essa informação com o armeiro, um anão cujo rosto enrugado mostrava que os muitos anos haviam lhe mostrado de tudo um pouco. Todos os outros estavam amedrontados demais, apreensivos com o tipo de gente que Leth havia trazido para aquele pacato lugar. Não que isso o incomodasse; estava acostumado com a reação que sua aparência bruta causava nas pessoas, especialmente em se tratando de humanos. Os humanos eram a mais covarde entre as raças, na sua opinião. E isso era o que mais o intrigava sobre a necromante que vira naquela manhã; a intensidade com que ela o olhara, a maneira como sustentara seu olhar sem medo.
 Já ouvira falar de necromantes antes, mas nenhuma das histórias falava sobre uma fêmea. As fêmeas são instáveis demais, pensou, e uma fêmea com muito poder poderia ser uma ameaça. Ele sabia que os necromantes dominavam demônios e manipulavam os poderes das trevas. Ficara se perguntando o que ela pensava enquanto o observava. Estaria tentando captar um ponto fraco, planejando um ataque contra ele? Mas era difícil acreditar nessa hipótese quando ele se lembrava da imagem dela naquela manhã; sentada sobre a relva, lendo, os cabelos escuros se derramando sobre os ombros, os quadris volumosos sob o longo manto vermelho. Era apenas uma fêmea, sensual sentada sob o sol. Mas as íris avermelhadas demonstravam o poder das trevas dentro dela, e faziam uma advertência na mente dele; havia uma segunda intenção naquele olhar, algo que ele não conseguia identificar o que era. Então, decidiu, era melhor saber de uma vez do que se tratava. Não queria ser pego de surpresa.

 Ela se virou devagar, e olhou para o savante com os pés firmemente plantados no chão perto da porta da taverna. Hog já o encarava, mas o savante olhava para ela, ignorando o demônio. Com os olhos fixos nela, Grathor se aproximou. Ela se levantou antes que ele chagasse, e ele parou à sua frente. O savante era realmente alto, ela pensou, até mesmo Hog era um pouco mais baixo que ele.
 - Quero falar com você. - disse o savante, e sua voz rouca e grave vibrou decidida.
 - Fale. - respondeu Zaíra, tentando mostrar indiferença; mas o corpo dela voltara a se manifestar com o fato de ele estar tão perto.
 - Quero saber o que você tanto olha em mim. Minha aparência a incomoda? Se for isso é só dizer, por que não me importo. É a reação que todos têm.
 - Está procurando encrenca, rapaz? - disse Hog, dando um passo firme à frente.
 - Hog, não. - a voz dela soou firme, enquanto apoiava a mão no abdômen do demônio, com se fosse impedí-lo de avançar.
 Os dois machos se encaravam em silêncio, os rostos quase se tocando, e pareciam estar prontos para rosnar um para o outro.
 - Hog, me espere lá fora. Eu resolvo isso. - como o demônio não se mexeu, ela repetiu, pausadamente. - Hog, por favor, me espere lá fora.
 Os dois ainda se encararam por um momento, então o demônio azul recuou um passo e olhou para sua senhora.
 - Certo, estarei lá fora. Mas se eu sentir o mais leve creptar da sua magia, - ele encarou o savante - eu volto.
 Então Hog se voltou para a porta e saiu, os cascos batendo no chão com força.
 O savante agora olhava para ela fixamente.
 - Seu namorado se irrita com facilidade. - ele disse, com sua voz rouca e calma.
 - Hog não é meu namorado. - ela retorquiu com um meio sorriso. - É meu parceiro, meu guardião. Na verdade é meu servo, mas não é assim que gosto de tratá-lo.
 - Um dos demônios que os necromantes evocam. - disse o savante, mais afirmando do que indagando.
 - Isso mesmo. - ela confirmou.
 - Hum... - ele não esperava que dialogar com ela fosse tão fácil. - Mas não respondeu à minha pergunta. Me incomoda o fato de alguém me olhar fixamente, sem que eu saiba o porquê. O que tem contra mim?
 - Nada, acredite. Eu estava ali, e o olhei algumas vezes. Foi só isso.
 - Não me convenceu, necromante. Parecia me observar. Quero saber por que.
 Ele continuava imóvel, esperando uma resposta que o convencesse.
 - Eu não o estava observando... - ela notou que ele não ia desistir. - Certo, eu estava. - fez uma pausa. - Você me atrai.
 Os olhos dele se estreitaram, e a boca se contraiu como se tivesse sido insultado. Mesmo na penumbra em que estavam, ela pode perceber a frustração e a raiva crescendo dentro dele. A voz dele soou, num tom baixo e grave.
 - Se isso é alguma brincadeira é melhor retirar o que disse agora, porque não terá outra chance.
 - Não estou brincando. - ela respondeu com firmeza, sem desviar os olhos dele.
 O savante a olhou fixamente por um momento, e a expressão dele se suavizou um pouco. A firmeza na voz dela parecia tê-lo convencido. Mas ele continuava visivelmente tenso. Era um caçador, um savante rude e nômade. Seu mundo não era feito de sentimentos e sim de fatos. Então, perguntou sem rodeios:
 - Está dizendo que quer ser minha fêmea?
 Ela tentou disfarçar o choque de ter sido pega de surpresa. Não esperava que o diálogo evoluísse de maneira tão rápida. No entanto não via para onde ir; se recuasse agora, ele não lhe daria outra chance. Demorou um momento para responder, sentindo um aperto no estômago e o coração martelando novamente quando disse.
 - É isso. Eu quero ser sua.
 Grathor a olhou com bem mais atenção depois dessa frase. Imóvel, ele percorreu com os olhos o rosto feminino e forte, que tinha olhos levemente amedrontados naquele momento. Baixou os olhos pelos cabelos escuros que se derramavam emoldurando os seios fartos, e a pele branca e delicada. O savante a olhou nos olhos novamente, e se aproximou dela até os corpos se tocarem. Passou a braço por trás dela e, subindo até a nuca, fechou a mão nos cabelos dela, segurando-os com firmeza. Puxou com uma leve pressão e a cabeça dela se inclinou para o lado expondo a garganta. Com o outro braço ele a enlaçou, puxando-a mais para si, enquanto desviava dos olhos dela para mergulhar no pescoço. Ele inspirou profundamente, sentindo o cheiro dela enquanto subia-lhe pelo pescoço, deslizava pelo maxilar, e a mordia de leve no queixo. Ela estava imóvel sob ele, a pele branca arrepiada, os seios enrijecidos. Ele passou para o outro lado do pescoço e com a ponta da língua rígida, roçou-lhe o pescoço acima, e terminou por mordiscá-la de novo. Ele levantou a cabeça para encará-la mais uma vez, e viu a boca entreaberta, os olhos embaçados, o peito arfando. Ainda havia uma pontada de medo no olhar, e isso o estava deixando louco. Ele perguntou pela última vez:
 - Ainda quer ser minha fêmea?
 - Agora mais do que antes. - ela respondeu num sussurro, e sua voz era puro desejo.
 - Vou tentar não machucá-la. - ele sussurrou perto do ouvido dela, divertindo-se um pouco com tremor que percorreu o corpo dela nesse instante.
 Ele a apertou contra si e mergulhou em sua boca, afagando o cabelo dela, que roçava macio como seda entre os seus dedos. Ela estava entregue, e o peito dela arfava repetidamente, enquanto ela sentia a língua dele preencher-lhe toda a boca. Os caninos roçavam-lhe os lábios, o que a fazia gemer baixinho. Ela tocou o pescoço dele, largo e sólido com uma árvore, depois agarrou o cabelo trançado e aprofundou o beijo ainda mais. Ela mantinha uma leve consciência de onde estava, mas isso não importava mais; não havia taverna, pessoas, conversa, nada à volta deles. Ela apenas sabia que precisava dele, e que seu corpo não pararia de gritar até que o tivesse.
 O savante a levantou, sentando-a em cima do balcão. Ela se encostou no espelho, e olhava ofegante as mãos dele sobre seu corpo, enquanto ele tentava desamarrar a parte da frente do manto. Mas a paciência dele estava no fim e ele terminou por rasgá-lo, expondo o seios redondos e fartos, onde ele mergulhou a boca faminta, fazendo-a arquear o copo e gemer novamente. Enquanto a sugava, ele deslizava as mãos pelo corpo dela, descendo pelas pernas grossas, levantando-lhe a saia, sentindo a pele lisa, os quadris redondos e firmes, as pernas dela enlaçando sua cintura. Passou a mão pelo meio das coxas e a tocou com o polegar: ela estava quente e totalmente molhada. Quando ele introduziu o dedo grosso e nodoso, ela quase gritou. Ela movia os quadris deliciosamente, seguindo o ritmo imposto por ele, e o orgasmo logo veio com um grito abafado e rouco, e o corpo dela cedeu quando ele a abraçou, o coração martelando contra o peito dele. Ele mergulhou em sua boca novamente, em um beijo profundo e urgente, enquanto tateava a fivela de sua própria calça, ágil com se sua vida dependesse disso. Quando ele a encarou novamente, ela reparou que havia algo incomum na expressão dele; tinha os olhos de um predador.
 - Não vou machucar você. - ele disse, e sua voz rouca e grave era só urgência e desejo.
 Ela o olhou nos olhos e fez que sim com a cabeça. Então ele a penetrou o mais lentamente que conseguiu com o fogo que o queimava por dentro. Ela estava tão quente, e era tão apertada para o tamanho dele, que ele empurrou um pouco mais do que devia. Ela se retesou um pouco, enquanto o choque e a dor lhe percorriam o corpo, as sobrancelhas arqueadas, a respiração irregular. Ele recuou um pouco, e respirou fundo, quase incapaz de se conter, esperando uma mínima demonstração de que ela se recuperara. Ela pestanejou e inspirou algumas vezes, então o puxou para si, agarrando-se a ele, invadindo-lhe a boca, sugando aquela língua grossa. Ele a segurou com firmeza, os braços subindo pelas costas dela, as mãos agarradas em seus ombros. Penetrou-a com rapidez enquanto a beijava, e foi afastando o rosto à medida que a cavalgava cada vez mais rápido. Então ela sussurrou no ouvido dele:
 - Você é tão grande...
 Foi a gota dágua. O orgasmo dele veio como uma avalanche, se espalhando em ondas por todo o corpo, enquanto ele pulsava dentro dela, rosnando baixo como um urso acuado. E ela gozou novamente, satisfeita com o efeito que sua frase provocara nele, satisfeita com a sensação de estar totalmente preenchida, e até um pouco dolorida sob o peso dele. Ele se deixou ficar sobre ela um momento, ainda segurando o cabelo dela e sentindo seu perfume, enquanto seu coração rufava nos ouvidos como tambores de guerra. Então ele levantou a cabeça, e olhou para ela. Ela estava ofegante ainda, mas estava completamente saciada, calma as águas de um lago. Ela o encarou, os olhos exaustos, as íris vermelhas como sangue. Olhos de uma necromante extremamente sensual. Ele mordeu o queixo dela novamente antes de dizer:
 - Você quase me enlouqueceu, sabia?
 - Quase? - ela respondeu, com um meio sorriso travesso.
 Ele estreitou os olhos, como se a repreendesse e a beijou novamente. Então tirou a camisa do corpo e a vestiu nela, depois a enlaçou pela cintura e a pôs no chão. Com o braço sobre o ombro dela, ele a conduziu para a porta, enquanto dizia:
 - Vamos para o acampamento. Você precisa de outro vestido.