domingo, 8 de dezembro de 2013

Refém

Abri os olhos pesadamente, retomando os sentidos, sentindo-me ainda entorpecido. Minha mente girava, como quem acorda de um porre. Não me lembrava de ter bebido... aliás, não me lembrava de coisa alguma desde a noite anterior.

Comecei a tomar consciência de onde - e como - eu estava. Havia música. Rock. Sentia uma dor quase cortante em meus pulsos e nos meus tornozelos. Percebi que estava amarrado. Haviam me atado pelos pulsos, com os braços acima da cabeça, de modo que meu corpo ficava levemente suspenso do chão, que eu tocava apenas com as pontas dos pés. Me debati, tentando me soltar. Estava desperto a esta altura, totalmente desperto. Senti meus tornozelos amarrados com tamanha firmeza que não me deixariam, realmente, ir a lugar algum. Tentei gritar e não consegui. Minha boca estava selada por uma fita adesiva. Por Deus, eu estava ferrado.

"Gonna make a jailbreak, And I'm lookin' towards the sky..." tocava em meus ouvidos. Alguém me pusera fones de ouvido, onde podia ouvir o AC/DC tocando em looping, como que caçoando da minha situação. Havia um diminuto aparelho de MP3 que havia sido preso... na minha cueca. Oh, Deus, eu estava seminu. Onde estavam minhas roupas? Ah, merda... não, calma. Calma, calma. Ok. Estava só de cueca e descalço, amarrado pelos pulsos e tornozelos, suspenso por uma corda atada a uma argola no teto. Amordaçado, num comodo que, como eu acabara de reparar, tinha revestimento a prova de som. E AC/DC em meus ouvidos. "Jailbreak... I got to break out, Out of here..."

Encarei os fatos, eu havia sido sequestrado. Eu não sou rico, não fazia ideia de porque justamente eu. Mas eu ia dar um jeito de pagar... meu resgate.  Droga, eu precisava fugir. E se não cobrassem resgate? E se eu fosse torturado? Afinal, por que eu estava seminu? O desespero começou a tomar conta de mim. Precisava fugir, precisava fugir. Comecei a me debater feito um louco, as cordas marcando ainda mais meus pulsos.

De repente, a porta do quarto isolado acusticamente se abriu. Meus olhos se arregalaram diante do assombro do que eu via. Uma mulher entrou, e trancou a porta atrás de si. Encarou-me, com um sorriso maldoso. Ela estava completamente vestida de Mulher-Gato.

Caminhou lentamente até mim, enquanto eu observava aquele disfarce tão incomum. A máscara de couro cobria o alto da cabeça como uma touca, encobrindo até as maçãs do tosto, recortadas apenas em torno dos olhos. Também possuías as características orelhinhas da personagem da DC Comics. O cabelo negro estava preso em uma longa trança e lhe caía pelas costas até a cintura. Trajava um sutiã de couro, que lhe cobria parcialmente os seios fartos, deixando a barriga à mostra. A calça justa, também de couro, era retalhada na frente das coxas, como se garras de uma gato gigante a tivessem rasgado. Eram coxas dignas de se admirar, mesmo estando eu naquele estado. Calçava botas de salto, arrematando a roupa totalmente negra. Por fim, um detalhe mais preocupante do que a loucura daquela roupa exótica: ela trazia um chicote com longas tiras de couro atado a cintura.

"Rrrrrrrrrr, miau..." a mulher ronronou para mim assim que chegou perto, e logo pude entender a razão do rock nos fones de ouvido. Eu podia ouvi-la, entender as palavras, mas não seria capaz de reconhecer-lhe a voz dada a presença da música. Eu não fazia ideia de quem era a mulher à minha frente. Até mesmo lentes de contato imitando olhos de uma gata ela se dera ao trabalho de usar. Começava a me perguntar se até mesmo a trança estilo Lara Croft era real, ou apenas mais uma característica calculada para despistar.

Me apeguei aos traços daquela boca, única característica que me sobrava para tentar reconhecê-la. Era pequena, com lábios não muito cheios, mas me pareceu extremamente sensual. Assim que percebeu meu olhar concentrado ela riu de lado, e passou a língua pelo lábio superior, hipnotizando-me ainda mais. Que Deus me ajudasse, eu estava imobilizado, a mercê de uma louca, e meus instintos estavam começando a sair do controle.

Ela ergueu os dedos, passando as unhas pintadas de negro na pele do meu peito, arranhando-me com certa pressão. O rastro vermelho e ardente que ela me deixou na pele começou a deixar-me levemente tonto. A mulher baixou os olhos para a minha cueca, e encarou-me novamente, balançando a cabeça em negativa, com um ar debochado. "Gatão ordinário" ela disse, enquanto rodeava-me lentamente. Eu estava visivelmente excitado, como ela acabara de apreciar.

Continuou a arranhar-me a pele, passando pela minha cintura, subindo pelas minhas costas. Minha respiração ia se tornado mais pesada a medida que o tormento prosseguia. Além de excitado, por Deus, eu estava com medo. Não tinha idéia do que esperar. Então ela desceu somente uma unha pela minha coluna, muito lentamente, enquanto eu me arrepiava por inteiro e me contorcia com a sensação. Chegando a beirada da minha cueca, ela parou, e apalpou meu traseiro, apertando-me com a mão inteira. "Que bunda linda" ela disse, e senti a queimação que veio junto com um estalo alto. Ela havia me dado uma palmada, com bastante força, e minha pele continuava ardendo segundos depois. Ela baixou minha cueca parcialmente, e me deu a segunda palmada, do outro lado, com a pele nua. "Linda e dura, essa bunda gostosa", ela disse, recolocando minha cueca em sua posição original.

Eu estava ofegante. E suava. Comecei a falar, mesmo que minhas palavras fossem incompreensíveis, por causa da fita que me amordaçava. Ela se pôs na minha frente, e olhou o revestimento acústico das paredes à nossa volta, com um debochado desdém. Era como se dissesse que não adiantaria eu gritar. Então arrancou-me a mordaça adesiva com um puxão seco. A pele em torno da minha boca queimou tanto que senti meus olhos arderem, à medida que se enchiam dágua. Já não podia dizer se era a dor ou a raiva que me queimava a vista daquela forma. Respirei fundo e contive as lágrimas, sentindo os olhos vermelhos enquanto eu a encarava, irado.

- Que merda você acha que está fazendo? - desafiei.

- Nada que você não mereça. - retorquiu a mulher-gato, enquanto eu absorvia a voz feminina e grave, através da música em meus ouvidos - Você é um cara malvado. Merece seu punido. Estou aqui pra isso.

- E você me conhece? - grunhi, irritado.

- Conheço você bem, muito bem. - ela deu uma gargalhada sombria, como se saboreasse um segredo - Você é que não me conhece. Mas eu sei muito sobre você, seu pervertido.

Encarei-a mudo. Mil coisas se passavam pela minha cabeça, pairando entre a descrença e o pavor. Não tinha ideia do que ela estava falando, mas estava me sentindo completamente ferrado. Ela riu da minha expressão interrogativa.

- Ah, internet... janela traiçoeira pela qual as pessoas falam muito mais do que deviam. Tenho uns três perfis na rede, pelos quais converso com você, deixando você pensar que são pessoas diferentes. Conheço sua personalidade e seus relacionamentos através de redes sociais. Fechando negócios com você, consegui seu endereço, telefone e até seu CPF. E através de bate-papos conheci seu lado mau, cheio de taras e fantasias. Decidi que você merecia levar umas palmadas, por ser um menino muito, muito levado. E com toda a informação que tenho, não foi difícil capturar você.

- Então é você... - falei, mais para mim mesmo, juntando mentalmente as informações.

- Eu quem, cara? - ela desafiou - Todos os meus perfis tem informações falsas. Você não tem idéia de quem eu realmente sou.

- Se fechou negócios comigo também tenho seus dados, seu endereço...

- É tudo "fake". - ela me encarou com seriedade - Eu não deixo rastros quando eu caço.

Puta merda. Eu estava farrado de verdade. E a mulher era totalmente pirada.

Ela saboreou aquele momento de pânico estampado no meu rosto. Riu e mordeu os lábios, divertida. Desatou o chicote da cintura, enquanto eu procurava recompor a minha sobriedade. Talvez eu tivesse uma chance, se me mostrasse um adversário a altura.

- Então.... minha caça. Quero uma confissão. Diga: "eu tenho sido um mau garoto".

- Pode esquecer. - rebati.

- Fala! - ela rosnou entredentes, e estalou o chicote nas minhas pernas.

Senti as tiras de couro queimarem minha coxa, que permaneceu ardendo bastante tempo depois dela ter puxado o chicote.

- Louca! - grunhi.

- De novo. "Eu tenho sido um péssimo garoto." Repete.

- Não. - respondi.

Ela me estalou o chicote umas quatro vezes seguidas, deixando minhas duas coxas pegando fogo. Ahhh, desgraçada. Se eu conseguisse colocá-la de quatro, ela é quem ia levar uma boa surra.

- Ainda não ouvi. - ela insistiu, estalando o chicote no meu abdomem.

- Ai, porra! Eu tenho sido um mau garoto! Satisfeita?

Ela sorriu, vitoriosa. Que raiva!

- Fala que você é um tarado.

- Eu sou um tarado. - rosnei entredentes, o olhar furioso fixado nela.

- Você.. é.. um tarado... seu pervertido. - ela afirmou, com a voz rouca e melodiosa, enquanto contornava-me novamente, pondo-se as minhas costas.

Meu corpo tremia de raiva, e pela ardência que me avermelhava a pele. Adrenalina pura corria dentro de mim a essa altura. E eu estava excitado novamente, bastante excitado.

Ela abraçou-me pelas costas, mordendo minha omoplata, deslisando a mão livre pelo meu abdomem, até encontrar meu membro duro. Joguei a cabeça para trás, respirando fundo e engolindo em seco. O toque dela era firme e sensual, e ela continuava a me morder enquanto acariciava o meu membro em toda a sua extensão. Eu nunca tinha sido torturado dessa maneira.

Então ela se afastou e me estalou o chicote mais três vezes, deixando-me as costas em brasa. Em seguida puxou a minha cueca até os tornozelos, deixando-a sobre as cordas que me imobilizavam os pés. E voltou a me acariciar, firme e ritmadamente, deixando-me cada vez mais rígido.

A esta altura minha respiração estava entrecortada e eu gemia, involuntariamente. Ela havia me levado ao topo do excitamento e eu só pensava que precisava ter um orgasmo ou morreria. Então ela se afastou de mim no momento em que eu estava quase no auge, deixando-me o membro pulsando e o corpo trêmulo de desejo. Sem aviso, ela me deu um tapa estalado, que deixou meu rosto queimando.

Fi-lha-da-pu-ta! Engoli em seco, sem dizer uma palavra. Eu dependia inteiramente dela para atingir o orgasmo, uma vez que estava completamente amarrado. E, pelos céus, era tudo o que eu mais precisava naquele momento. Meu corpo queimava por dentro, e a excitação no meu sexo chegava a ser aflitiva. Respirei fundo para não xingá-la em voz alta, enquanto mil pensamentos passavam pela minha cabeça. Ahh, como eu adoraria vê-la amarrada, e ter a oportunidade de penetrá-la até ouvi-la gritar!

Ela se aproximou novamente, lânguida como uma verdadeira gata, observando-me através da máscara. Levou as mãos ao lado dos seios, apertando-os um contra o outro, enquanto eu observava o movimento deles dentro do pequeno sutiã de couro. Então ela se inclinou e acomodou meu membro sobre aquele par de seios volumosos, e pressionou seu peito conta o meu corpo. Com as duas mãos nas minhas coxas, e meu membro pressionado entre os seios dela e meu próprio corpo, ela deu início a um sinuoso movimento de sobe-e-desce. Oh, céus... estava me levando a loucura outra vez. E, novamente, quando eu estava quase lá, ela parou e me deu mais algumas palmadas, nas pernas e no traseiro. Eu estava a ponto de explodir.

Mais uma vez ela se aproximou, e se colocou à minha frente, de costas para mim. Passou os braços pela minha nuca e puxou-me o cabelo. Ela estava tão perto, e seu perfume me envolvia, doce e cítrico, e sua nuca estava a minha mercê... eu a mordi, de maneira firme e cheia de desejo. Ela soltou um gritinho e puxou meu cabelo com mais força. Então, colada ao meu corpo, ela começou a mexer os quadris, rebolando... Eu sentia aquela bunda enorme e dura pressionada contra o meu membro, mexendo, mexendo, e mexendo...

Comecei e gemer alto... eu já estava fora de mim. Ela parou o movimento, sem se mover de onde estava. Podia sentir todo o calor do corpo dela e até mesmo a vibração de sua voz quando ela me disse, sexy e autoritária:

- Implora. Se quiser gozar vai ter de implorar.

- Por favor... eu quero gozar, por favor... - pedi sem pensar duas vezes.

Ela se virou e segurou meu membro, masturbando-me novamente. Enquanto sua mão direita me excitava, a esquerda passeava pelo meu traseiro, ora apertando-me, ora dando-me palmadas mais leves. Agarrada a mim, a mulher-gato roçava de leve a máscara na minha pele, enquanto mordia o meu peito, masturbando-me cada vez mais rápido. Desta vez ela me estimulou até o final, e eu urrei de prazer enquanto via os jatos jorrarem longe. O orgasmo me dilacerou por dentro, de uma forma deliciosa e sofrida como eu nunca havia sentido antes, deixando-me tonto de prazer e satisfação. Estava embriagado ainda por aquela sensação, quando ela se afastou de mim, retornado com um lenço amarrotado nas mãos. Ela tampou-me o nariz com ele, fazendo-me inalar aquele cheiro acre, e desfaleci no minuto seguinte.





Acordei em minha cama, dentre as familiares paredes do meu quarto, sem fazer ideia de quanto tempo se passara ou de como eu havia retornado. De modo algum havia sido um sonho, pois as marcas nos meus pulsos e a vermelhidão por todo o corpo eram bem reais. Sentei-me na cama, enquanto tomava consciência de que vestia novamente as minhas roupas. Um olhar para o criado mudo focalizou algo que despertou minha atenção. Havia um bilhete, estrategicamente digitado e imprimido.

"Como diria O Exterminador: I'll be back. Beijos e até a próxima."

Tive de rir. Continuei fitando o bilhete, entre a total descrença e o desejo de retaliação. Relembrei rapidamente tudo o que havia acontecido. No fundo eu havia gostado, mas aquela mulher me fizera sofrer além da conta. E ainda pretendia voltar? Que voltasse. Me encontraria bem mais preparado da próxima vez.

"Hasta la vista, baby", murmurei, e joguei-me na cama, exaurido.

**********

Nota da autora: O conto de hoje foi inspirado no conto "Capturado", de autoria de Ricardo Justino, que li no blog Meus Fetiches - Contos Eróticos e Outras Histórias. À medida que lia e gostava da história, minha mente ganhou asas e se povoou de imagens, criando uma versão para o tema mais ao meu perfil. A ideia não é comparar, ou me apropriar, mas acrescentar. Obrigada, Ricardo, pela fonte de inspiração. Gostei bastante da maneira como você escreve.

Nota 2: Peço perdão às minhas leitoras que apreciam as minhas séries com uma pegada mais romântica. Vou retornar à sequencia das série em breve. É que ultimamente minha criatividade tem se voltado para uma pegada mais bruta. Estou "exorcizando" este lado antes de voltar ao meu ritmo habitual. Obrigada.

4 comentários:

  1. Gostei muitooooo da pegada... Mesmo sendo mais bruta... Não tem jeito Marcinha, você escreve muito bem! Faz com que a gente imagine a cena. Fico na expectativa da "volta da mulher gato, rs"

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Sammoka!
      Tô pensando nisso, se nossa gata malvada volta e se darei a ela outro dia de caçador ou um dia de caça, rss ;)

      Excluir
  2. CA-RA-CO-LES!
    Tomara que ela não demore muito tempo para ir atrás dele de novo... e, principalmente, tomara que ele consiga ser o caçador agora, e não a caça! Ia ser mara!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, Nanda!
      Nossa gata má tem andado com a mente bem ativa, e louca para repetir a dose.
      Entretanto nosso internauta não está mais tão descuidado quanto antes... ;)

      Excluir